O legado comunicacional de Francisco
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Não foi apenas pelas reformas institucionais e pelo seu modo próximo de ser Igreja que o Papa Francisco sempre se assumiu como figura transformadora. Foi também pela sua abordagem inovadora à comunicação. Mais do que a transmissão de mensagens, o modelo comunicacional que instituiu assentou, acima de tudo, em atos de conexão e de interação. E isso é uma grande herança que nos lega.
Com uma linguagem direta e natural, o Papa marcou-nos pelos gestos, sobretudo pelo sorriso que a todos abraçava; pelas palavras (“todos, todos, todos” ecoará para sempre na nossa memória); e pelos silêncios (um homem de branco a atravessar sozinho a Praça de S. Pedro em tempo de pandemia transportava com ele aqueles que se uniam no medo de uma doença que paralisou o Mundo).
Internamente, Francisco também foi um reformador, alterando substancialmente o setor da comunicação do Vaticano. Em 2015, instituiu a Secretaria para a Comunicação e, em 2018, criou o Dicastério para a Comunicação, nomeando Paolo Ruffini, um conceituado jornalista como prefeito. Um leigo chegava a um lugar de destaque na Cúria Romana. Neste contexto, apostou nas redes sociais, reunindo milhões de seguidores e enfatizando que a comunicação da Igreja deve ser dirigida a todos, nunca caindo na tentação de se constituir como uma “seita” a falar em circuito fechado.
Percorrendo a sua produção escrita, encontramos vários documentos que espelham uma grande preocupação com a dimensão comunicativa. Exemplos disso são a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, a Carta Encíclica Laudato Si ou a Carta Encíclica Fratelli Tutti, para além das mensagens do Dia Mundial das Comunicações Sociais. Em 2024, escolheu o tema “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”. Em destaque estiveram os desafios éticos e humanos colocados pela evolução da IA, apelando para uma comunicação que preserve a dignidade e a verdade humanas, geradora de confiança e não de medos. No Jubileu do mundo da comunicação, em janeiro de 2025, incitando os jornalistas a terem determinação em dizer sempre a verdade. Também deixou mensagens aos gigantes tecnológicos, exortando, por exemplo, a Meta a não desistir do Programa de Verificação de Factos.
Este Papa que veio do fim do Mundo para tornar o centro um lugar nómada fez, desde o início, a diferença. Logo em 2013, a revista “Time” elegeu-o “Personalidade do Ano”, um reconhecimento que refletia o impacto global em aproximar o seu pontificado do quotidiano das pessoas. Pela minha parte, guardarei uma abordagem comunicacional centrada na empatia e na inclusão. Que isso continue a inspirar e desafiar a Igreja a construir pontes de compreensão e de esperança.