O Livre encontra na deputada que escolheu para o Parlamento um obstáculo difícil de ultrapassar.
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Em pouco tempo, Joacine Moreira entrou em colisão com o partido que representa, incompatibilizou-se com os jornalistas parlamentares, falhou o prazo para entrega do projeto de lei da nacionalidade e permitiu que o seu assessor ganhasse um inusitado protagonismo no campo mediático. Tudo isto tem sido amplamente noticiado, desviando a deputada da essência da sua função: trabalhar com o partido a que está ligada e representar os eleitores.
A Assembleia da República sempre foi um dos epicentros do trabalho jornalístico para onde vários meios de Comunicação Social destacam repórteres experientes e com um conhecimento aprofundado do campo político, adquirindo aí uma espécie de estatuto de residentes. Portanto, a primeira reação quando se sabe que Joacine Moreira pediu à GNR que a protegesse dos jornalistas dentro do Parlamento é de uma colossal incredulidade. O secretário-geral da AR já veio dizer que o sucedido "não foi normal", porque não estava em causa a segurança física de ninguém. Todavia, até agora, não se ouviu da parte da deputada do Livre qualquer pedido de desculpa por esse estranho comportamento.
Quem falou foi o assessor, não percebendo que as suas declarações não são próprias das funções que é suposto desempenhar. Disse que a "cultura de trabalho" de Joacine é uma "cultura de descanso, no sentido intelectual do termo" e que não permitirá "interrupções constantes" dos jornalistas, a quem deixou um recado no Twitter: "Larguem o osso". Esta posição é intolerável por várias razões: porque um deputado tem de estar disponível para prestar declarações aos repórteres parlamentares, porque um assessor deve construir pontes com os média e não cisões irreversíveis, porque na casa da democracia não se aceitam posições autoritárias. Está tudo errado.
No meio de vários acontecimentos possíveis, mas incrivelmente inverosímeis, há uma noticiabilidade que coloca o Livre no centro do campo mediático político pelo insólito. E isso não se tolera. Nada do que tem transformado Joacine em notícia é relevante, não deixando, no entanto, de ser importante. É preciso saber o que uma deputada (não) tem feito para rapidamente serem tomadas medidas corretivas. E isso cabe ao Livre. Rui Tavares não pode vir dar justificações nos plateaux dos noticiários ou através da sua coluna no "Público". O Livre tem de agir. Para restituir dignidade à sua bancada parlamentar e ao próprio ao partido.
*Professora Associada com Agregação da Universidade do Minho