O livro indispensável da maternidade: o Código do Trabalho
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A pirâmide etária em Portugal tem a forma de uma pirâmide, se fosse pedido o projeto ao meu tio Vítor depois de receber o ordenado e estoirá-lo na taberna. Não é uma pirâmide, é mais um losango. Há muito poucas crianças a nascer e a população está por isso cada vez mais envelhecida. Ainda assim, quem continua a ter mais filhos ou são os muito pobres ou os muito ricos. Quem não tem acesso a um bom planeamento familiar e quem tem demasiado acesso a uma educação católica e não acredita na imaculada contraceção.
A verdade é que só agora é que a escolha da mulher em não ser mãe começa a ser aceite. É uma questão que continua a ser chata em algumas reuniões de família em que as tias continuam a olhar de lado aquelas sobrinhas que não têm bebés mas que tratam o piruças por filho. Mas se o não ser mãe é uma decisão envolta em julgamento, ser mãe também é. E não falo exclusivamente daquelas pessoas que apontam o dedo às mulheres que, por qualquer razão, decidem não amamentar ou que ficam chocadas por verem mães a comprar pijaminhas de piratas às filhas, em vez de roupinhas de princesa.
Escolher engravidar é a decisão mais impactante da vida de uma mulher, especialmente a trabalhadora. Não só porque se decide dormir de barriga para cima durante meses, ter os pés inchados constantemente ou apetecer farturas às quatro da manhã. É também por saber o risco e o impacto que vai ter na nossa vida laboral. Não é à toa que em Portugal as mulheres têm o primeiro filho depois dos 30. Decidimos apostar nos estudos, procuramos estabilidade financeira e investimos na carreira, mesmo sabendo que, no final do dia, os dados nos digam que vamos ter empregos mais precários e ganhar menos. A realidade é que a maternidade agrava a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.
Segundo os dados, cinco grávidas ou recém-mães foram despedidas todos os dias no ano passado, perfazendo o total de 1866 dispensadas pelas empresas. E há três anos que o número aumenta. Com as reações políticas à recente polémica do despedimento de trabalhadoras recém-mães no Bloco de Esquerda, dá ideia que todos os partidos políticos estão extremamente envolvidos em criar soluções para este problema. Parece mesmo que toda a gente está mesmo ralada com o tema do desamparo laboral de trabalhadoras gestantes ou lactantes, mas até ver ainda não saiu nenhuma medida nova. Não sei se vai surgir mais algum caso em concreto no BE ou noutro partido qualquer, mas cheira-me que pelo menos a montanha vai parir um rato.
A mim nunca me aconteceu, mas conheço mulheres a quem, nas entrevistas de emprego, perguntaram se estavam a pensar ser mães nos próximos tempos. A resposta a isto é sempre confrangedora. Não é uma pergunta ética, não sei até se não é irregular. Se alguém dos recursos humanos vos perguntar se estão a pensar engravidar, eu sugiro que lhes falem de toda a vossa vida sentimental. "Bom, eu de momento ando com o Jorge e a verdade é que já não fazemos amor há algum tempo. Estou a pensar em acabar com ele e voltar à vida de solteira onde tinha one-night stands dia sim, dia não. É possível que volte a achar graça ter sexo desprotegido num banco de trás de um Opel Corsa..." Só para não serem as únicas pessoas embaraçadas naquela sala de escritório.

