A Europa continua a ser muito mais um jogo entre estados que propriamente uma união, mesmo que, quando a coisa aperta e o desemprego e a instabilidade social crescem perigosamente, o dinheiro acabe por aparecer como aconteceu neste Conselho Europeu. O adiantamento em 2014/15 de seis mil milhões de euros previstos no orçamento comunitário para sete anos é a prova dessa tendência de que a União acaba por funcionar quando os males ameaçam ser de todos. Como é o caso do desemprego jovem galopante.
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Sobre esta matéria do foro do federalismo europeu, ou da falta dele, as declarações de Angela Merkel e de Durão Barroso não poderiam ser mais explícitas: a chanceler pontuou que não devemos esperar resultados imediatos e o presidente da Comissão Europeia alertou ser destituído de razões esperar por conselhos europeus decisivos em matérias como a da política de emprego cuja eficácia depende da governação de cada Estado.
Este jogo entre estados requer as suas artes geralmente arquitetadas nos bastidores, designadamente ao nível das direções gerais e entre comissários europeus. Ou seja: depende do "lobbying", que ainda é uma palavra maldita entre nós. Simplesmente porque ainda vamos preferindo a marosca ao método da influência declarada, com a respetiva declaração de interesses anexada.
Exemplo flagrante de bom "lobbying" é o trabalho que a Espanha desenvolveu no espaço público antes deste Conselho Europeu para garantir cerca de dois mil milhões do bolo de seis mil milhões para o emprego jovem. Um objetivo que parece adquirido, ainda que nenhum responsável europeu tivesse aceite desvendar repartições de dinheiros desse fundo essencial.
Acontece que, face à escalada do nosso défice, dificilmente passaremos sem renegociar com a troika novas e mais moderadas condições de ajustamento. Sob pena de, como ainda ontem alertou Silva Peneda, o presidente do Conselho Económico e Social, "podermos ter dor sem ajustamento", ou ainda, como preveniu o presidente da CIP, poder acontecer que uma chispa faça explodir a "bomba-relógio" em que parece estar sentada a nossa paz social.
Tal como aconteceu em Espanha com o pacto de regime assinado por Rajoy e Rubalcaba, precisamente para levar a este Conselho Europeu, talvez seja hora de Pedro Passos Coelho e António José Seguro acordarem numa posição portuguesa que sirva de base a essa renegociação para um ajustamento mais brando e mais dilatado no tempo.
Esta parece ser um pacto ao qual os dois principais partidos da alternância dificilmente poderão escapar, se ambos continuam a considera que é na Zona Euro que Portugal deve permanecer governável. Por mais que o nosso complexo naipe partidário convide a outros géneros de jogos políticos.