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Não fora um pouco de Costa, andaríamos a falar de um tal Bruno, o único fenómeno televisivo que, por estes dias, faz sombra a Marcelo. Isto, enquanto dá nas vistas o 22.º Congresso do PS que hoje encerra na Batalha.
Para os partidos, qualquer partido, o foco é o poder. E a questão central do poder é saber para quê e para quem. Por mais que os socialistas se entretenham a discutir identidade, ou se o PS deve posicionar-se mais à direita ou mais à esquerda, o líder António Costa juntou às suas orientações para o congresso a visão de um clássico da estatística segundo o qual o melhor lugar da praia para instalar a barraquinha dos gelados é colocá-la ao centro, para melhor atrair os clientes, venham eles da esquerda ou da direita. Ora, como se vê, o teorema enunciado para resolver uma venda trivial é também aplicável à política.
Costa sabe que, à direita e à esquerda, por toda a Europa, se olha com desconfiança os velhos partidos instalados, organizações arcaicas sem democracia interna, dinossauros de outra época, muitos deles envenenados pela corrupção e incapazes de dar resposta aos novos desafios da globalização, das migrações massivas, das alterações climáticas, da desregulação dos mercados e do emprego. Num tal panorama, o PS português é o único sobrevivente do naufrágio que vitimou a maioria dos partidos (sociais-democratas e trabalhistas) que integram o grupo socialista europeu - da Grécia a Itália, Espanha, Holanda, França e República Checa.
Inédita, a solução governativa de Costa garantiu estabilidade política e económica, e está a fazer caminho, com resultados, em especial no emprego e na devolução de rendimentos aos portugueses, para além da reversão de parte das medidas da troika. Mas vai ser difícil repetir a receita quando o país precisa de opções de fundo que requerem compromissos políticos e maiorias de maior dimensão. Daí que, sem discutir futuras alianças, antes deixando em aberto todas as portas, o foco de Costa está agora nas três eleições do ano que vem - europeias legislativas, e regionais na Madeira. E, desta vez, os socialistas acreditam que podem ganhá-las - todas.
O "efeito Sócrates", sobre o qual se especulava, esse passou afinal ao lado do congresso da Batalha. Ao invocá-lo no rol dos antigos líderes e no legado político que é património do partido, Costa sintonizou o canal história para eliminar o fantasma que alguns temiam pairar sobre a sala. Entre eles, vá lá saber-se porquê, essa relação faz lembrar uma certa viúva que, ao recordar o defunto marido, dizia: "No céu esteja quem no céu me deixou!".
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