Estudo, há quase 30 anos, as fontes de informação no Jornalismo, procurando perceber os processos de seleção e, com eles, o tipo de espaço público que os média noticiosos desenham através do seu trabalho.
Corpo do artigo
Uma das conclusões é a de que o lugar onde se constroem os conteúdos noticiosos condiciona a escolha dos interlocutores ouvidos. Ora, aí está um assunto que deveria suscitar atenção quando falamos de equilíbrios territoriais. Este será o fio condutor da minha participação hoje nas "Conversas na Bolsa" do Porto.
A agenda noticiosa de um meio de Comunicação Social é um processo complexo dependente de diversas variáveis: a força dos acontecimentos, a pressão das fontes (muitas vezes com ações sofisticadas), as ondas noticiosas em curso, as sugestões dos próprios jornalistas, o vigor das redes sociais, a tendência para clonar o que a concorrência faz... Nessa espiral (des)controlada de constrangimentos de vária ordem, entra a escolha das fontes de informação que, numa peça jornalística, adquirem papéis diferentes. Podem ser protagonistas dos factos, assumindo um registo factual; explicativas, chamando a si o estatuto que têm de especialistas em determinado domínio; ou comentar o que se passa, sendo uma espécie de analistas da atualidade. Se a seleção do primeiro grupo decorre da natureza dos acontecimentos que naturaliza essa eleição, a opção por determinado interlocutor dos outros grupos é condicionada pelo lugar das redações, porque aí há um fator que se impõe: a proximidade.
No caso das televisões, sobretudo dos canais de informação que necessitam de comentadores em permanência para assegurar o fluxo da emissão, a preferência por convidados com facilidade para estarem fisicamente em estúdio é óbvia. No entanto, também há essa tendência na imprensa. Desenvolvendo com outras colegas um estudo sobre os conteúdos noticiosos de saúde publicados na imprensa generalista portuguesa entre 2010 e 2020, encontrámos modificações na escolha de algumas fontes conforme as peças eram assinadas por jornalistas que trabalhavam nas redações de Lisboa ou do Porto.
Percorrendo os meios de Comunicação Social nacionais, salientam-se, nesta dimensão, o "Jornal de Notícias" que tem a sua Redação principal fora de Lisboa e a RTP que apresenta emissões diárias noutros sítios, para além da capital. É verdade que outros meios têm delegações noutras cidades, mas o centro nevrálgico produz naturalmente mais informação. E isso repercute-se nas fontes selecionadas. É também isto que tem de ser levado em conta quando se discutem as assimetrias do nosso país.
*Prof. associada com agregação da UMinho