O espectro do macaquinho de imitação assolou boa parte do espectro político português que resolveu assinalar o 25 de Novembro com a dose de infantilidade dos garotos, como aqueles miúdos que impõem aos pais uma festa de aniversário igualzinha à do colega da escola. Aceitou-se a teoria da equiparação do 25 de Novembro ao 25 de Abril com a ligeireza tonta de quem procura um álibi para, na realidade, operar uma teoria da substituição. O mais grave é que a Direita democrática caia nisto, alinhando numa manobra de revanchismo retro a despejar os esqueletos dos armários, mesmo quando boa parte dos intervenientes do 25 de Novembro (como o coronel Rodrigo Sousa e Castro) consideram a data como uma das muitas que são produto do período revolucionário, lápide de alguns, mas, agora e certamente, um novo centro interpretativo para a extrema- direita que comanda a agenda das causas e dos mitos que se querem verdades e do revisionismo histórico da conveniência.
Dói ver como partidos fundadores da democracia alinham num simulacro histórico quando não passa de um ajuste de contas. E de um jogo floral. A jigajoga dos cravos vermelhos no púlpito da Assembleia da República protagonizada pelo líder do CH, previsível e à mão de semear, é tudo o que precisávamos para que o condomínio da democracia compreenda de que limpeza verdadeiramente se estava a falar quando essa força partidária colocou o verbo "limpar" nos cartazes.
É reveladora a infantilidade de recriar uma cerimónia de equivalência ao 25 de Abril, com os mesmos rituais, o direito a parada e a declarações de facção, com a mudança da cor dos cravos para o alvo e puro branco, já que em nome da rosa não poderia ser e quando a simbologia das flores foi sendo capturada por boa parte da Esquerda. Se não tivesse já sido tomado, seria o girassol a simbolizar esta Direita democrática que - dispensavelmente - se cola à agenda do CH na política de imigração e da nacionalidade, tantas vezes a vemos a mudar de direcção à procura da luz do sol que está a dar.
A razão que subjaz a este tacticismo comprovar-se-á fatal, em abraço de urso. A falta de dignidade histórica do 25 de Novembro não obsta a que a data seja reconhecida como um dia marcante da democracia portuguesa. Mas querer fazê-lo competir com o 25 de Abril não é só um disparate. É uma agenda e está ao serviço.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)

