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Um homem mais sensível às questões da virilidade pode assustar-se com estes números: há 60 anos, uma ejaculação trazia consigo 113 milhões de espermatozóides; hoje, essa quantidade é de apenas de 66 milhões. Não é só a quantidade que está a diminuir: é também a qualidade. Niels Skakkebaek, diretor de investigação do Hospital Universitário de Copenhaga, é a fonte desta desconcertante informação.
Os machos estão em perigo? A pergunta sugere um grito: não! Mas a verdade é que a duplicação da incidência do cancro dos testículos e de malformações genitais nos machos humanos registadas nas últimas décadas aconselham à espécie máxima precaução.
Niels Skakkebaek resume assim a gravidade da coisa: "Os problemas do aparelho reprodutor masculino são, hoje, potencialmente tão graves como o aquecimento global". Credo! De quem é a culpa? Nossa, pois claro. Ou, mais concretamente, das substâncias químicas que fomos introduzindo nos nossos desregrados hábitos de consumo e no cada vez mais destratado meio ambiente. As loucuras do mundo moderno pagam-se caro. Os conservantes usados nos produtos alimentares, as substâncias usadas em tintas, detergentes, plásticos, pesticidas e coisas afins, mas também o stresse, o tabaco, as drogas, as bebidas alcoólicas, os antidepressivos e outras coisas do género, tudo concorre para que a terrífica pergunta "os machos estão em perigo?" não pareça assim tão desvairada.
A soma de factos que a literatura sobre o tema nos oferece é, só por si, assustadora. O leitor sabia que nós, humanos, somos bastante menos férteis do que outros animais? Sabia que num único ciclo menstrual as hipóteses de conseguir uma gravidez não vão além dos 15% a 20%? Sabia que estamos obrigados a respeitar um intervalo de 24 a 48 horas entre duas ejaculações, se quisermos acelerar a probabilidade de engravidar a nossa companheira?
Felizmente, nem tudo são más notícias: os especialistas fazem-nos o favor de esclarecer que não passa de um mito a ideia de que a contenção sexual é aconselhável para a procriação. A falta de conhecimentos básicos sobre o tema é, esse sim, um entrave, pelo que se aconselha a compra de uns livrinhos dedicados a tão sensível matéria.
E sensível porquê? Sensível, porque ninguém deseja a extinção do macho (julgo eu). E sensível porque Portugal é o segundo país da OCDE com a mais baixa taxa de fertilidade: 1,32 filhos por mulher, contra uma média de 1,74 filhos por mulher em idade fértil nos 31 países que integram a OCDE. Até aqui estamos numa profundíssima crise...
Para assegurar a substituição de gerações, cada mulher em idade fértil deveria ter, em média, 2,1 filhos. A minha teve dois. Quer dizer: a nossa obrigação está (quase) cumprida. E a sua?