Se Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa ou outro notável do PSD - mas sobretudo aqueles - não decidirem, à última hora, entrar na corrida social-democrata, a próxima disputa da liderança apenas dirá respeito a um trio: o "madrugador" Passos Coelho, o "penetra" Paulo Rangel e o "pendular" Aguiar Branco.
Corpo do artigo
Um dos três deverá ser o próximo líder e, sendo-o, pode legitimamente aspirar a ser primeiro-ministro, mais cedo do que seria pensável se a actual conjuntura não tivesse criado um clima politicamente insustentável, do qual possivelmente não se conseguirá sair sem eleições e sem mudança de protagonistas.
Passos Coelho apareceu cedo nesta corrida. Em boa verdade não saiu dela, desde que perdeu para Ferreira Leite e para os barões do partido. Entretanto, aproveitou o tempo: preparou-se, correu o país, construiu equipas e em cima da hora lançou um livro que obriga a que se fale dele e que dá dele uma imagem forte para a mudança que o PSD necessita.
Paulo Rangel é o penetra desta história. Apareceu sem ser convidado, aparentemente sem ser muito desejado - muitos dos apoios que poderá recolher estavam destinados a outro - mas com a força que lhe advém disso mesmo: sendo um outsider, não só está "limpo" como está ligado à única vitória que o partido pode reclamar em tempos recentes. Rangel vai ter de conquistar a máquina partidária - e as máquinas não gostam, normalmente, nem de outsiders nem de quem se apresenta como salvador desdenhando dos que têm estado no palco - , e os militantes que estarão disponíveis para apoiar quem ganha, quem costuma ganhar. Mais tarde terá de viver explicando a quase dupla participação no PP e no PSD - uma fragilidade que os adversários aproveitarão. Se, na campanha interna, for evidente o seu crescimento terá de se preparar para um dia-a-dia duro, porque entre os seus adversários há quem conheça bem os seus calcanhares de Aquiles.
Finalmente, o pendular Aguiar Branco. Ele foi um bom ministro e um bom líder parlamentar. E foi um bom apoio de Ferreira Leite nas eleições, ainda que isso possa ser, do ponto de vista eleitoral, uma má carta, porque ficou inegavelmente ligado à derrota. Mas, dizem os seus apoiantes, mais vale estar ligado a essa derrota tendo lutado pela vitória, do que não estar, por nada ou pouco ter feito.
O que, no fundo, o PSD necessita, mais do que um líder, é de um grande debate interno que garanta que, quem quer que seja que ganhe, terá a seu lado os valores firmes de que o partido dispõe. É preciso que os barões, os baronetes e os militantes do PSD entendam que o próximo passo que vão dar não pode ser em falso.
A sociedade portuguesa precisa de um PSD forte e com uma liderança credível. Um novo falhanço fará com que os portugueses concluam que já não podem contar com o partido. A alternância democrática só existe se os dois maiores partidos estiverem à altura das suas responsabilidades. É por isso que esta eleição do PSD não diz respeito apenas ao PSD: os olhos dos portugueses estão atentos e interessados no que se passar.