O massacre de Toulouse trouxe de novo à baila a discussão sobre as razões que levam um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, a assassinar inocentes em nome de valores cuja razoabilidade nos escapa.
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A morte de três crianças e de um professor numa escola judaica e de três polícias franceses às mãos de um jovem de 23 anos com antecedentes criminais esconde o quê? Apenas a loucura de um rapaz que desejou ser confundido com um assassino em série? A perigosa atração que organizações como a al-Qaeda podem desencadear em gente normal na aparência?
Uma coisa é certa: o massacre de Toulouse prova, outra vez, que o terrorismo, nas suas mais variadas e mortíferas faces, entrou com violência nas nossas vidas - e delas não sairá tão depressa.
Bernard Henri-Lévy pedia, ontem, no diário espanhol "El País", a todas as forças políticas francesas para dizerem, em uníssono, que o ataque de Toulouse foi um ataque "a toda a França", país a quem "compete dar uma resposta quando os seus filhos (...) são assassinados assim". Creio que o problema não é da França nem pode ser resolvido só pela França por ter ocorrido em França. O problema é transversal a toda a Europa, a todo o Mundo - e por isso exige uma resposta global.
O problema encontra-se justamente aqui: na busca dessa resposta global, tantas vezes esquecida e posta de lado por motivos e ganhos de curto prazo. Há um perigoso, mas recorrente, erro máximo neste tipo de análise, cometido pelos que colocam uma grelha maniqueísta sobre a matéria: há quem se apresse a encontrar na deriva de direita de alguns governos a justificação para este tipo de massacres; e há quem apresse a isolar o fenómeno na gaveta das loucuras individuais, esquecendo as lições do passado. É verdade que declarações como as que Nicolas Sarkozy fez há duas semanas, endurecendo o discurso anti-imigração, não ajudam. Mas daí até o culpar pelo sucedido vai um arriscadíssimo passo. É verdade que não há concórdia possível quando o discurso promove o óbvio. Mas isso não justifica por si só atos tresloucados como o de Toulouse.
O racismo, o antissemitismo, o terrorismo - esses são os alvos a abater. A única arma eficaz é a união dos povos que se mantêm fiéis aos princípios da democracia. Sim, porque de uma coisa não tenhamos dúvida: por muito lunáticos que nos pareçam monstros como o de Toulouse, o problema é que eles sabem o que estão a fazer. Sabem que a complexidade crescente do Mundo globalizado em que vivemos tornou-nos muito mais vulneráveis. Se a esta fraqueza juntarmos a fraqueza política dos que se resguardam na "identidade nacional" para conquistar poder, estaremos a pôr nas mãos dos lunáticos as bombas que matarão os nossos filhos.