A produção de algo diferente é uma das formas de as empresas competirem. Os economistas falam de diferenciação.
Corpo do artigo
A diferença pode provir da qualidade, de ser melhor que o resto, mas também de o produto, pelas suas características, apelar ou responder à procura de clientes específicos, a um nicho de mercado. Esta política tem a vantagem de permitir às empresas não estarem tão sujeitas à ditadura dos preços quanto as empresas que produzem bens ou serviços indiferenciados. Há apenas um mas, um grande "mas". Não basta às empresas terem um produto melhor ou distinto. É preciso que os potenciais clientes o reconheçam. Na economia a regra é a mesma da mulher de César: não basta sê-lo, é preciso parecê-lo.
Estes princípios têm uma aplicação mais ampla do que, à primeira vista, poderia parecer. Por exemplo, se o JN achasse que eu escreveria o mesmo que outros, escolheria o mais barato. Confesso que não sei se foi que isso aconteceu. Tenho a pretensão de pensar que não. Nesta lógica, se quiser continuar, tenho três alternativas: escrevo o mesmo que qualquer um e tenho de ter a preocupação de ser baratinho; procuro ser melhor do que os outros e, nesse caso, posso aspirar a ser bem pago; tento escrever umas coisas diferentes, não necessariamente melhores que as dos outros colaboradores, actuais ou potenciais, e criar o meu público. Na segunda e terceira hipótese, se quiser preservar a vantagem, o meu estilo ou novidade não podem ser facilmente imitáveis.
Aqui chegado, dei por mim a pensar se não deveria mudar de discurso. Em Portugal, dizer mal é o que está a dar. Tem imensa procura, dizem os economistas. O que não é surpresa, a avaliar pelas sondagens. Na justiça, saúde, educação, economia e eu sei lá mais o quê, mais de metade dos portugueses acha que a situação está má ou muito má e que só pode piorar. O director de um órgão de comunicação social que queira manter ou subir nas audiências, tem de ter alguém que diga mal, de preferência mesmo muito mal e com estridência. Sabendo isto, os escribas de serviço atiram-se a este público e dão-lhe o que ele quer, cada qual afadigando-se em dizer mais mal que o outro. Uns fazem-no com estilo e elegância, outros mais à bruta, com frases sonantes, mais ou menos insultuosas para o governo e a classe política, em geral e, ainda outros, que se especializam em sectores específicos. Neste contexto, podemos considerar o debate sobre o "estado da Nação" com um pico sazonal de procura. Para lhe fazer face, como nos negócios, são precisos trabalhadores temporários. Os preferidos são ex-governantes, em especial ex-ministros. Ninguém consegue zurzir nos actuais governantes tanto e tão bem (ou melhor, mal!). Um amigo meu diz-me que essa capacidade é inversamente proporcional ao tempo que estiveram no executivo ou ao que não fizeram. Contra-argumento com Daniel Bessa, ministro por pouco tempo e pouco dado à maledicência. Diz-me que não há regra sem excepção e tenta convencer-me que se eu quiser continuar a escrever, e ter "mais mercado", deveria começar a ser mais verrinoso. Resisto e tento pensar que haverá um "nicho" de leitores suficiente para o director deste jornal me ir aturando! E, sinal dos tempos, verifico que, hoje, me limitei ao "bota abaixo"...