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António Domingues, o homem que ia salvar a Caixa Geral de Depósitos, que optou entretanto por salvar o seu património das páginas dos tabloides, foi ontem ao Parlamento prestar esclarecimentos sobre a sua passagem pelo banco público. O antigo gestor do BPI fez algumas revelações importantes. Entre elas, que enviou SMS (mensagens por telemóvel) ao ministro das Finanças, por razões que tinham que ver com o adiamento da sua saída definitiva. Pelos vistos, a coisa não lhe dava jeito e até já estava de férias, mas se lhe arranjassem uma solução jurídica (o que quer que isto queira dizer em euros), talvez pudesse prolongar o sacrifício. Mário Centeno não arranjou solução nenhuma (talvez a pensar nos estragos que isso faria às contas do banco). Ou seja, e a julgar pelas revelações do banqueiro, o ministro é, além de um trapalhão que não trata de nada a tempo e horas, um indivíduo que se entretém a rasteirar tipos que antes achava geniais. Se o propósito de Domingues era mostrar que se desamigou de Centeno, não precisava de ter perdido tanto tempo com histórias da carochinha. Isso percebeu-se logo que reconheceu o recurso aos SMS, em vez de usar o Messenger do Facebook, que é a plataforma preferida entre amigos.
Ficámos também a saber que a passagem de Domingues pela CGD, apesar de curta, será marcante. Teve tempo de gizar um plano que vai acabar com o forrobodó de anos. Ao ponto de prever que, já este ano, o banco público terá um lucro de 200 milhões de euros. Com uma ressalva: só será assim, se for aplicado o plano de recapitalização que deixa como herança. Entre outras prebendas, uma injeção de 2,7 mil milhões de euros em dinheiro fresco saído do bolso dos contribuintes (270 euros por português). Ou seja, e fazendo as contas de forma inversa e certamente disparatada, há 2,5 mil milhões (2,7 da injeção menos os 0,2 do lucro) que serão atirados para vários sacos sem fundo (imparidades, créditos malparados e outras coisas esquisitas).
Finalmente, Domingues deu conta aos deputados de um outro plano genial para a CGD, de que nunca ninguém (tirando praticamente toda a gente) se tinha lembrado: uma das melhores formas de poupar dinheiro é economizar no que se paga em salários. Vai daí, 2200 pessoas vão ser despedidas. Sucessivas fornadas de gestores competentíssimos passaram pelos gabinetes confortáveis da CGD, provocaram, contra a sua vontade, sucessivas crises, pagas com generosidade pelos contribuintes, aos milhares de milhões de euros de cada vez, mas nunca nenhum tinha ousado inovar desta forma: quem paga é o mexilhão.
* EDITOR EXECUTIVO