Desigualdade. Quando o mundo parece viver segundo a exclusividade dos efeitos de uma única palavra, fica difícil encontrar uma via para a solução dos problemas. Mas há, ainda assim, vozes não negligenciáveis, se levado em linha de conta o respectivo registo de interesses. E esta semana já dispõe de dois exemplos.
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O tiro de partida para uma ponderação séria teve origem na aparente postura paradoxal de um multimilionário norte-americano. Warren Buffett, considerado o terceiro homem mais rico do mundo, foi de todo desassombrado em artigo de opinião publicado pelo New York Times - e agitou as águas. Sob o sugestivo título "Parem de mimar os super-ricos", o multimilionário é arrasador. "Os nossos líderes têm pedido que partilhemos sacrifícios. No entanto, quando fizeram esse pedido, esqueceram-se de mim. Verifiquei com os meus amigos milionários para saber que sacrifícios lhes foram pedidos mas também eles ficaram intactos", denuncia Warren Buffett, considerando que "enquanto muitos americanos lutam para chegar ao fim do mês e pagar as despesas, nós, os mega-ricos, continuamos com as nossas extraordinárias isenções fiscais. E como se a declaração não fosse por si só suficientemente forte, Buffett usou o seu caso para comparações, explicando que pagou ao Estado federal 17,4% de impostos dos seus vencimentos do ano passado enquanto a vintena de pessoas que trabalham no seu escritório oscilou entre os 33 e os 41%.
Não obstante o lado filantropo de Warren Buffett estar bem expresso em testamento ao já ter anunciado destinar a uma fundação 83% da sua fortuna (os seus filhos que tirem o cavalinho da chuva!) é um erro haver quem aponte para a conclusão fácil e precipitada de que o homem pensa assim por ter nascido no ano 30 do século passado e, por isso, estar no ocaso da vida...
É de bom senso, de facto, o apelo realizado a um esforço partilhado por todos - segundo rácios da mais elementar justiça. Um objectivo impossível de obter? Talvez. Mas é neste ponto que uma outra voz importante se fez ouvir nas últimas horas: a de Bento XVI.
Na chegada a Madrid para presidir às Jornadas Mundiais da Juventude, o Papa Bento XVI enfatizou uma mensagem essencial: a de que o homem deve estar no centro da economia. "A dimensão ética não é uma coisa exterior aos problemas económicos, mas uma dimensão interior e fundamental". E vincou bem o "segredo" para a mudança desejável: "A economia não funciona apenas com uma auto-regulação mercantil, tem necessidade de uma razão ética para funcionar".
Ética. Eis o ponto.