Se fosse possível clonar o ministro da Saúde, colocando as suas réplicas em alguns dos ministérios mais sensíveis (as Finanças e a Educação, por exemplo), estou certo de que a qualidade do Governo liderado por Passos Coelho seria bem melhor. As virtudes de Paulo Moita Macedo são conhecidas e reconhecidas pelos pares. A acumulação de prestígio e notoriedade, fruto dos resultados conseguidos nos lugares de topo por onde passou, valeu-lhe o cargo de ministro-estrela no seio de um Executivo pouco brilhante.
Corpo do artigo
Nunca é de mais lembrar a hercúlea tarefa que Paulo Macedo enfrentou, com sucesso, quando foi diretor-geral dos Impostos. Sem fazer grandes ondas, conseguiu pôr a funcionar uma máquina que estava perra há muitos anos, que era vista e tratada com desprezo pelos contribuintes, que andava muito longe de cumprir a básica tarefa de cobrar impostos sem se enredar em processos kafkianos.
Quando Paulo Macedo abandonou o cargo para integrar a administração do BCP, o "monstro" estava controlado, a eficácia do Fisco disparou e o respeito dos contribuintes pela administração fiscal aumentou. Hoje, é muito difícil escapar às multas e coimas impostas pelo Fisco. Muito disso deve-se ao trabalho de Paulo Macedo.
No Governo, o ministro da Saúde encontra-se em estado de graça desde que assumiu o cargo. Problema: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe, como diz o povo. Sigamos o trilho das notícias conhecidas apenas ontem para fazer prova da tese.
- A falta de médicos, obrigatórios para tripular ambulâncias de emergência, levou a falhas nas escalas em dez das 42 existentes. Faltam especialistas e os pagamentos têm sido reduzidos. Utentes falam em "risco para vidas humanas";
- A diminuição de profissionais e a desorganização dos serviços levam o caos aos hospitais, agora que as gripes e as constipações estão na moda;
- 182 médicos do Centro Hospitalar do Algarve queixaram-se da degradação dos cuidados de saúde prestados à população algarvia, com frequentes adiamentos de cirurgias programadas, falta de material e medicamentos ou atrasos na realização de exames. A Comunidade Intermunicipal do Algarve quer apurar responsabilidades.
Os brutais cortes impostos ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos últimos três anos só podiam dar nisto. Paulo Macedo não é um santo milagreiro: faltando-lhe essa ajuda, pouco mais pode fazer. A manta é curta, muito curta - e não se vê como esticá-la. Reformar o SNS a sério é a única saída, porque o sistema não aguenta mais cortes, sob pena de pormos em risco a saúde dos que a ele recorrem todos os dias. O ministro tem nas mãos um dos decisivos pilares do país. Que a força esteja com ele!