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O homem que um dia sonhou "implodir" (sic) o Ministério da Educação vive, hoje, nos escombros da casa "gigantesca que se acha dona da Educação em Portugal" (sic). O homem que se entusiasmou com a criação de uma máquina educativa "muito simples, que não tivesse a Educação como pertença mas tivesse a Educação como missão reguladora muito genérica e, sobretudo, promovesse a avaliação do que se está a passar" (sic) é o mesmo homem que carrega o pesado fardo da incompetência e da inconsequência às costas. Porquê? Porque o homem, Nuno Crato de seu nome, professor de profissão e ministro da tutela até um destes dias, falhou estrondosamente na sua missão. Ao mirar-se ao espelho, Crato só pode levar as mãos à cabeça. Com toda a certeza sem se aperceber, Nuno Crato transformou-se no Dr. Jekyll e Mr. Hyde da Educação em Portugal. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro.
Não chegaria um jornal inteiro para fazer, com o devido rigor, a avaliação do caos em que o setor educativo se transformou. Há coisas cómicas. Há coisas dramáticas. Há decisões divertidas. Há decisões insensatas. Há, enfim, um forrobodó que afeta milhares de professores, milhares de alunos, milhares de pais, milhares de famílias, milhares de funcionários dos estabelecimentos de ensino.
Tomemos apenas como exemplo o último, que não o derradeiro, episódio desta tragédia.
Estou em crer que nenhum português com, pelo menos, dois dedos de testa está em condições de entender o processo de colocação de professores. Ao comum dos mortais resta, portanto, avaliar o método pelas consequências.
Ora, quando há milhares e milhares de alunos que correm o risco de começar a ter aulas apenas dois meses depois de oficialmente iniciado o ano letivo, só pode concluir-se pela elevada falibilidade do método.
Mais: quando, após 20 anos de serviço, continuam a existir milhares e milhares de docentes sem colocação e, logo, todos os anos com o credo na boca, só pode concluir-se pelo elevadíssimo grau de erro que o método comporta.
Mais ainda: quando tomamos como exemplo o caso de Matosinhos e percebemos que, à data de ontem, havia 750 crianças da pré-escola e do primeiro ciclo que continuam em casa, só pode concluir-se pelo desastre do método. Crianças em casa significa pais atarantados à procura de alguém que tome conta deles. Vale o mesmo dizer: significa vidas retalhadas pela incompetência dos outros.
O ministro que sonhou implodir o Ministério da Educação cometeu a notável proeza de alcançar o objetivo em tempo recorde. Pelo meio, implodiu-se a ele mesmo. Quem vier a seguir estará obrigado a pegar nos caboucos que restam para construir uma nova casa. Nuno Crato continuará a dizer disparates. Mas já não a concretizá-los. A Nação ficará a salvo.