António Costa conhecia o contexto, as circunstâncias e as fragilidades de levar Fernando Medina para o Governo, atribuindo-lhe a pasta das Finanças num momento tão relevante quanto o da aplicação dos fundos europeus do Plano de Recuperação e Resiliência e depois do brilharete de Mário Centeno. Mas precisava de alguém de confiança.
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O atual ministro tinha perdido as eleições autárquicas, uma "derrota pessoal e intransmissível", como o próprio admitiu, depois de erros lamentáveis, entre os quais o da partilha de dados com a embaixada da Rússia em Lisboa de manifestantes anti-Putin.
Se o contexto era difícil para o incumbente, foi ficando pior ao longo do último ano, com buscas na Câmara de Lisboa focadas em contratações ocorridas durante a sua presidência e epílogo, também ainda por esclarecer, no caso da indemnização à administradora da TAP Alexandra Reis, posteriormente nomeada secretária de Estado do Tesouro, e que levou à queda do ministro Pedro Nuno Santos.
Fernando Medina tem resistido, faltando agora conhecer na íntegra o relatório da Inspeção-Geral de Finanças, pedido pelo próprio, à atuação da companhia aérea, apontando as primeiras conclusões para a responsabilização das chefias da empresa que facilitaram a indemnização de 500 mil euros.
Em abono de Medina, poderá sempre dizer-se que a autorização para pagar o meio milhão foi do ministro das Infraestruturas. Em abono de António Costa, que a escolha de Fernando Medina ajudou, num ano de profunda crise, o país a ter resultados no défice e na dívida pública. Apesar e por causa da crise.
Mas o risco de o ministro das Finanças poder ser constituído arguido existe. Um risco que o primeiro-ministro comprou quando o levou para o Governo. E que leva agora António Costa a um encolher de ombros: se for constituído arguido, é. Porque, tal como Costa, ele é o Governo. E, com ou sem relatório, a questão não é jurídica. É política. O fim de Medina é o fim do Governo.
*Diretor-geral editorial