A coisa começou a tornar-se patente com a célebre tirada "jamais" do ministro Mário Lino. A margem sul, sendo um deserto, não poderia alojar o novo aeroporto de Lisboa (NAL). Estava decidido que ficaria na Ota. Ministro disse. Mas não se escreveu. O resto já todos sabemos: o Governo decidiu reanalisar a localização, concluindo que, afinal, existe vida na margem sul e o novo aeroporto de Lisboa acabou por ir lá parar ("acabou" é capaz mesmo de ser, na actual conjuntura, a palavra certa para nos referirmos ao NAL...).
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Depois disso, Sócrates desafiou a sociedade nortenha a fazer prova de vida, apresentando uma proposta para gerir o aeroporto Francisco Sá Carneiro (AFSC). A Junta Metropolitana do Porto encomendou um estudo que demonstra que a intuição do PM estava certa. Várias associações empresariais manifestaram o apoio dos empresários ao projecto. A Sonae, em consórcio com a Soares da Costa, tornou público o seu interesse, formulando uma proposta. Com menos publicidade, a Mota-Engil disse o mesmo. Quando todas as condições pareciam estar reunidas para o PM dar início ao processo de concessão, a ANA começou uma campanha de contra-informação, divulgando dados parcelares, propaganda não passível de ser contraditada. O intuito? Tentar inculcar a ideia de que a autonomização do AFSC seria uma operação ruinosa (e os empresários do Norte masoquistas?!). Tudo muito estranho depois do desafio lançado pelo PM. Mais estranho, ainda, quando o secretário de Estado Paulo Campos se juntou ao coro defendendo que a concessão, em separado, oneraria os custos de operação do AFSC. A verdade é que Sócrates nunca mais falou, publicamente, no assunto, ficando sem se saber se mudou de ideias. Os dados são enviesados e os argumentos falaciosos, mas podem ter convencido o PM! Nunca se sabe! Se assim for, tinha a obrigação, por respeito para com as gentes do Norte, de assumir essa mudança de opinião e clarificar a situação. Talvez a apresentação da candidatura de Elisa Ferreira propicie a ocasião...
Primeiro o ministro, depois o secretário de Estado. Como a não querer ficar atrás, também Ana Paula Vitorino resolveu baralhar um dossiê. No caso, o relativo à barragem na foz do Tua, condicionando a sua adjudicação à construção de uma linha de comboio alternativa à actual que ficará submersa numa larga parte do traçado. Nada de especial não fora a construção da barragem já estar adjudicada e... tal exigência não constar do caderno de encargos! Quem conhece a região sabe que o projecto da linha férrea será caro, hipotecando a rentabilidade da barragem. A pergunta óbvia é "porquê só agora?". Dão--se alvíssaras a quem tiver uma resposta coerente com a prioridade dada pelo PM às barragens enquanto fonte alternativa de energia.
Três casos. Todos envolvendo o Ministério das Obras Públicas. Ministério? Dado os contornos dos casos, talvez fosse melhor falar em mistério das Obras Públicas.
P.S. 2013. Está em Vigo. Porto e Lisboa são alternativas para um voo. Há comboio rápido. Se for pelo Porto, tem de levantar as malas e mudar para o metro. Tudo somado, demorará, no mínimo, mais 40 minutos. Se for para Lisboa, não sai, demora mais uma hora e vai directo ao aeroporto. Qual escolheria? Há várias maneiras de matar uma opção...