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Por estes dias, Mário Centeno tenta convencer a Europa de que 2 mais 2 são 7. Contas feitas, diminui-se como político e descredibiliza-se enquanto académico. Amanhã termina o prazo para que Bruxelas se pronuncie sobre o esboço de Orçamento do Estado para 2016 remetido pelo Governo nacional. No horizonte há nuvens negras. O executivo de António Costa poderá investir contra o que queira interpretar como interferência excessiva da União, relativamente à estratégia que garante ser a melhor para Portugal. Acontece que o chamado "two pack", que os socialistas portugueses sempre defenderam, estabelece novas regras de avaliação orçamental relativamente aos países da Zona Euro. E o que é facto é que não se ilude fora, com a mesma facilidade com que se enganam uns quantos incautos, neste país de brandos costumes.
O ministro das Finanças poderá não ter reparado, mas a Comissão Europeia também é feita de muitos economistas que não aceitam como certo o milagre da multiplicação dos euros, pela simples razão de que recusam transformar em razão de ciência, ilusões só explicáveis pelo domínio da espiritualidade. Em economia as contas têm de bater certas. E 2 mais 2 são 4. Ponto final parágrafo.
Claro que há promessas feitas. Promessas que a extrema-esquerda está disposta a cobrar caro, porque foi caro o apoio que vendeu a um executivo que despreza, mas que mantém no poder tendo em conta a alternativa democrática de ver a governar o centro-direita que o povo quis, porque venceu eleições. Elucidativamente, Francisco Louçã, "líder" omnisciente do BE, já fez saber que "se Costa recuar no Orçamento haverá crise política em Portugal". Catarina Martins percebeu certamente o recado e concorda. Pudera.
Seja como for, os sinais estão todos aí. Só não os lê quem não quer.
A UTAO considerou que a proposta do Governo "corre evidentes riscos de incumprimento". Em Estrasburgo, Jean-Claude Juncker confessou estar "muito preocupado" com o documento apresentado pelo executivo nacional. E recusando teorias da conspiração, o comissário para os Assuntos Económicos Pierre Moscovici, socialista como António Costa, garantiu que "atuaria do mesmo modo, fosse um Governo de esquerda ou de direita".
Significa que este é o momento da verdade. A apresentação de um documento orçamental que Bruxelas queira aceitar poderá ter como custo de oportunidade o declínio da "syrização" da política portuguesa. Ao mesmo tempo implicará, quem sabe, o princípio do fim do apoio interesseiro com que António Costa conta à esquerda do PS. Na política como na vida não se pode ter tudo. Já se verá.
DEPUTADO EUROPEU