O Governo adotou medidas excecionais para tempos excecionais no mercado laboral, sendo que obrigou os trabalhadores e empresários ao confinamento e está a dificultar ao máximo que haja despedimentos em massa.
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São decisões acertadas numa altura em que se trava uma guerra económica provocada pelos estilhaços da Covid-19. Reduzir a propagação do vírus só é possível através da limitação da mobilidade das pessoas, mas nunca é suficiente. O que vamos assistir daqui para a frente é a uma adesão imensa de empresas ao lay-off, sejam elas pequenas, médias ou grandes. A Segurança Social recebeu até ontem cerca de 1400 pedidos de empresas que pretendem aderir ao lay-off simplificado e o Governo já admitiu que esta medida possa custar aos cofres do Estado cerca de mil milhões de euros por mês. Um rombo no porta-aviões de Centeno, que há muito deixou de sonhar com cativações e contas públicas em ordem. Será um outro pesadelo para os portugueses quando a pandemia estiver controlada. Disso, infelizmente, não podemos fugir. Com a previsível redução drástica dos postos de trabalho, tanto dos trabalhadores fixos como dos temporais, as medidas terão de ser mais musculadas. Para isso, António Costa precisa urgentemente de uma resposta dos seus parceiros da União, venha ela travestida de "coronabonds" ou de outra figura. Para já, o que está em cima da mesa, em termos de mercado laboral, não é uma revolução estrutural nas relações entre patrão e trabalhador. As atuações e as situações, essas sim, é que são extraordinárias. Serão precisos recursos públicos gigantescos para as empresas continuarem a laborar e voltarem, mais tarde, à normalidade possível. Esta ameaça depressiva está também a contaminar as políticas monetárias e orçamentais com a tolerância a maiores défices e maior dívida pública. Não esquecendo que a política económica, em condições excecionais, tem também de estar ao serviço das pessoas.
*Editor-executivo