É costume dizer-se que quando alguém morre deixa de ter inimigos. Não há nada como a morte para tornar uma pessoa um ente querido por todos os que o rodeiam. Incluindo o conjunto daqueles que em vida do defunto diziam dele cobras e lagartos.
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Com a "morte" política também parece acontecer o mesmo fenómeno e é isso que estamos a assistir com a saída de Jerónimo de Sousa da liderança do Partido Comunista Português. Mesmo aqueles seus adversários políticos mais acirrados fazem uma menção higiénica das divergências ideológicas, mas lá acabam a cantar hossanas ao veterano dirigente comunista.
De repente, da noite para o dia, o mesmo homem que andou 18 anos a liderar (e muitos mais a militar) um partido que sempre teve o seu Sol na União Soviética e ainda agora não desiste de tentar branquear a "operação especial" da Rússia de Putin na Ucrânia, passou a ser um homem bom, um grande coração, uma pessoa extremamente agradável e simpática no trato pessoal.
Nem sequer Cotrim Figueiredo, seu "companheiro" involuntário na hora do adeus à liderança partidária, conseguiu aproveitar a deixa para salientar a total diferença de processos entre a sucessão num partido democrático como a Iniciativa Liberal e o "modus faciendi" a que assistimos num partido autocrático como o PCP.
Podemos ainda acrescentar que até na IL também parece ter havido uma tentativa do líder que sai indicar o seu sucessor, mas tudo o que se passou nos dias seguintes a essa indicação contrasta brutalmente como o que se passou e passa nos comunistas. Cotrim Figueiredo veio a público apoiar Rui Rocha e menos de 24 h depois já havia outra candidata e várias declarações de deputados e dirigentes da IL a demarcarem-se dessa indicação de sucessão dinástica do líder. No PCP Jerónimo de Sousa disse quem seria o seu sucessor, tudo se passou entre quatro paredes (que não de vidro) e ao que nos dizem, o Comité Central aplaudiu de pé durante quatro minutos essa novidade absoluta chamada Paulo Raimundo.
Uma ovação que podia ser uma oração num conclave secreto e silencioso, onde ninguém ousa levantar a voz para contestar a palavra do senhor. Este PCP parece um filme em últimas exibições que podia ter como título "O mosteiro do Jerónimo"!
Já agora, se os camaradas comunistas não se importam, aproveito o título.
Empresário