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Estamos na época do retrovisor. Aproxima-se pela frente um Ano Novo e nós aproveitamos o fim deste para olhar para trás e recapitular tudo o que de bom e de mau nos deu 2016. Arrisco a dizer que a maioria, quando medir o que se passou na frente nacional, tenderá a colocar a nossa história coletiva na coluna do bom, mesmo que de forma tímida.
"Este foi um ano caracterizado por uma procura de serenidade, de diálogo, de apaziguamento", disse o presidente da República, na comunicação sobre o Orçamento de Estado. Ultrapassados tempos marcados por uma lógica de confrontação que colocava velhos contra novos, público contra privado e por vezes o país contra si próprio, não é muito difícil encontrar no presente sinais de distensão que nos levam a percecionar este como um bom ano. A conquista do Europeu e a eleição de António Guterres são o laço e o papel de embrulho.
Mas não tenho dúvidas que se pedir um olhar sobre o Mundo a opinião será diametralmente oposta, baseada em palavras-chave como "terrorismo", "Brexit", "Síria" ou "Trump". E também não andarei longe da verdade ao dizer que se a análise for feita para lá de um ano, o quadro será ainda mais negro.
E por todo o Mundo é assim. O passado parece-nos glorioso, o presente uma ameaça e o futuro uma desgraça. E a verdade é que a história não é essa. No seu livro "Progress: ten reasons to look forward to the future", o sueco Johan Norberg lembra-nos, por exemplo, que em 1820 a percentagem de população que sobrevivia com menos de dois dólares por dia era de 94% e hoje menos de 10% dos humanos estão nessa situação. O livro chama a atenção para os avanços da medicina e das condições gerais de vida que nos deram um enorme aumento da esperança de vida. Pensem que em 1980 só 24% da população mundial tinha instalações sanitárias e hoje esse número é de 68%. Recorda-nos ainda que, por muito que nos pareça o contrário, as nossas sociedades são hoje mais seguras, com taxas de homicídio muito baixas do que no passado. E a lista poderia continuar...
Não só para iluminar a nossa perspetiva da vida que é preciso relativizar a nossa suposta desgraça. É que este pessimismo tem consequências e não é por acaso que 81% dos apoiantes de Donald Trump acham que o Mundo está pior e que 61% dos apoiantes do Brexit acham que os seus filhos estão fadados a ter uma vida pior que os pais. Estes diagnósticos sombrios vendem, mas estão longe da verdade e não nos estão a dar um Mundo melhor.
Tenham um bom Natal
*SUBDIRETOR