O Mundo está um lugar perigoso
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A agitação no plano da política interna tem-nos feito esquecer o cenário internacional, cada vez mais instável e perigoso. Na semana passada, a propósito dos 75 anos da NATO, não foi por acaso que o secretário-geral, Jens Stoltenberg, recordou os fundamentos da Aliança Atlântica e a necessidade dos seus signatários se manterem unidos e fiéis “à promessa de se protegerem uns aos outros”.
O recado foi claro e teve como destinatários Trump e a sua corte republicana, que prosseguem em tergiversações infantis sobre a Ucrânia - dizendo que acabam com o conflito em 24 horas (!) - ao mesmo tempo que ameaçam não garantir a continuidade do financiamento à NATO, caso os países membros não se comprometam com a dotação dos 2% de orçamento militar para a Defesa.
Infelizmente, o quadro não inspira a grandes brincadeiras ou hesitações. A ameaça de um conflito de escala global é cada vez mais real e vários líderes e porta-vozes europeus têm alertado, nos últimos meses, para esse risco, apelando a um urgente plano de defesa e de militarização da União, face às crescentes manobras de influência russas na periferia da Europa.
Veja-se o que está já a acontecer nos Balcãs, com o ressurgimento de tensões separatistas, ou na Eslováquia, onde foi eleito um presidente com conhecidas simpatias e ligações ao Kremlin. Sem esquecer o regime húngaro, que só agora começa a ser objeto de contestação nas ruas. Putin semeia há anos estas divisões e regista pequenas vitórias estratégicas, com a ascensão de partidos extremistas e a crescente polarização das opiniões públicas europeias e ocidentais.
É crucial que a União Europeia (EU) mantenha a sua clareza estratégica e uma defesa intransigente dos seus valores liberais e democráticos. Por outro lado, há que passar do discurso à prática em termos militares e preparar-se, com ou sem Trump na presidência americana, para uma nova fase de autonomia militar, que contenha as tentações expansionistas da Rússia. Como bem lembrou Charles Michel recentemente, “se queremos paz, temos de nos preparar para a guerra”. Portugal, fundador da NATO e membro da UE, vai certamente dar o exemplo e manter-se do lado certo da história.