Precisaria este Mundo das redes sociais, da realidade aumentada e do metaverso de uma espécie de Live Aid para as vacinas? Sim, a julgar pelos alertas que estão a cair há demasiado tempo em saco-roto e pelas imagens que não impactam o suficiente para que a pandemia seja olhada, tratada e, sobretudo, prevenida à escala mundial.
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Chegamos a este Natal com mais doses, com mais restrições, com mais condicionalismos, com mais testes. E bem. São precisos. Mas também precisamos de mais canções solidárias como "Do they know it"s Christmas?". Que façam barulho. Que cheguem a todo o lado. A todas as fronteiras. Que ensurdeçam os políticos que ouvem baixinho a frase do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde: nenhum país sairá da pandemia com o reforço da vacinação se os países pobres continuarem por imunizar.
O maior mérito do Live Aid foi mesmo ter abanado o Mundo. Viu e ouviu. É certo que nunca ficou claro qual foi o verdadeiro impacto do evento, mas não há dúvidas de que conseguiu despertar consciências para a tragédia da fome. Sem Facebook, sem Twitter, sem Linkedin, sem YouTube, sem TikTok, sem Internet. Foi o primeiro movimento viral.
Não sabemos que mais imagens são precisas para dar outro abanão ao Mundo. Para o sacudir com força. Mas já não deveríamos precisar de estremecer com fotos de crianças de ossos colados na pele ou de ver imagens de desespero nos hospitais causadas pela covid para sair do conforto de um país rico.
O que parece claro é que, como diz a OMS, programas indiscriminados de reforço da vacinação "tendem a prolongar a pandemia em vez de acabá-la", dando ao vírus mais oportunidades de se espalhar e sofrer mutações. Enquanto a vacinação não for universal, vamos continuar a confinar e a desconfinar, a usar máscara, a manter o distanciamento, a lutar contra novas variantes. A aceitar que o novo normal é já o velho normal.
Sem Internet, o Mundo abriu os olhos para a fome em África. Com Internet, o Mundo continua a preferir um algoritmo hipócrita de interesses económicos que vende a quem dá mais, que é indiferente a quem não pode e que não dá esperança nem no Natal.
*Diretor-adjunto