A pandemia baralhou as eleições de novembro nos EUA. Abriu uma profunda crise económica, alterou prioridades políticas e mudou aquilo que os eleitores valorizavam nos políticos.
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Até agora, as sondagens têm dado a vitória a Joe Biden. Trump começa a perceber que não conseguirá inverter as intenções de voto. Por isso, sugeriu a alteração da data das eleições. Os média americanos preveem o pior.
A "Time" e a "Newsweek" elegem, esta semana, o mesmo tema e apresentam idêntica tese: Donald Trump vai perder as eleições e não aceitará os resultados. A "Newsweek" fala de um desastre sem precedentes, acentuado por uma pandemia que não dá tréguas e por uma economia que atira para a penúria milhões de norte-americanos. O salto até uma convulsão social pode ser demasiado pequeno e acicatado por um presidente que, desde o primeiro momento, pôs em marcha uma permanente política disruptiva.
Num livro agora lançado e intitulado "Surviving autocracy", Masha Gessen, nascida na União Soviética e autora de uma brilhante biografia sobre Vladimir Putin, defende que Trump não concorreu para presidente, mas para autocrata e, nestes anos, as instituições democráticas não o salvaram. Depois de vencer as eleições de 2016, declarou-se acima da lei, faltou várias vezes à verdade e ignorou a responsabilidade que o cargo lhe impunha. Esta semana, numa entrevista à "Fox News", explicava assim a importância da reabertura das escolas: "Se olharmos para as crianças, elas são praticamente, eu até diria quase definitivamente, imunes à doença (...). Têm um sistema imunitário mais forte do que o nosso". O vídeo foi partilhado nas redes sociais e o Facebook e o Twitter decidiram apagá-lo por considerarem que este conteúdo promovia a desinformação.
Enquanto Donald Trump dá tiros nos pés, Joe Biden vai fazendo uma campanha algo serena. Nos próximos dias, terá pela frente um momento forte: o anúncio do nome escolhido para a vice-presidência. Coincidência ou não, o casal Obama tem feito aparições cirúrgicas. A 29 de julho, Michelle estreou o formato "The Michelle Obama podcast" tendo como primeiro convidado o marido. A imagem divulgada dessa conversa é fortíssima: numa sala de estar singela, em clima intimista, eis Michelle, de calções e blusa larga, descalça e sentada informalmente num sofá de tecido e, em frente, Barack, de sorriso aberto, camisa por fora das calças. Falam do passado pessoal erguido a pulso e do futuro de uma nação quase a desmoronar-se. Temos muitas saudades deste modo de colocar a política em cena.
*Prof. associada com agregação da UMinho