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Em Portugal registaram-se recentemente 45º C (até em abril); na Grécia houve grandes incêndios e em Itália tempestades no Norte e calor insuportável no Sul.
O Sistema Europeu de Informações sobre Incêndios Florestais indica que arderam 170 mil ha de florestas (o dobro da média do período entre 2003-22), com impacto na biodiversidade mas também na saúde humana, até porque a saúde do planeta é obviamente sinónimo de saúde humana e a saúde das espécies é também um bioindicador da saúde do planeta.
Os cientistas da World Weather Attribution reafirmam que estas ondas de calor seriam “virtualmente impossíveis” sem o aquecimento global devido à ação humana.
De facto, a temperatura do mar em Itália e na Grécia subiu mais de 5ºoC. Isto pode agradar a banhistas (numa visão autocentrada), mas, desde 2015, as ondas de calor causaram uma mortalidade significativa entre a superfície e os 45 metros de profundidade a diversas espécies de corais, ouriços-do-mar, moluscos e bivalves.
O Mediterrâneo é um “hotspot” das alterações climáticas, mas as tendências a que assistimos são alarmantes também no Atlântico.
A revista “Nature” revelou que as alterações climáticas estão a fazer colapsar o sistema de correntes oceânicas que mantém a estabilidade do clima do hemisfério norte. No melhor dos cenários, em poucas décadas, um sistema de correntes marítimas crucial para a Humanidade pode colapsar. O fim da circulação meridional de capotamento do Atlântico (AMOC, em inglês) será devastador, pois um Atlântico Norte extremamente quente libertará grandes quantidades de energia para a atmosfera, que serão devolvidas sob a forma de furacões ou tempestades intensas.
Entretanto, ainda há no Parlamento português quem invente relatórios do IPCC e negue as alterações climáticas. Mas elas são reais. Julho foi o mês mais quente desde que há registos.
É preciso coragem política para respeitar a evidência científica e contrariar o lóbi da pecuária, que (pela voz da Ordem dos Médicos Veterinários) criticou a recomendação de uma alimentação de base vegetal para compensar a pegada ecológica das viagens das jornadas mundiais da juventude.