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Entre o copo de cerveja e o pires de tremoços, chegam notícias de um território outra vez a arder, uma campanha eleitoral que discute cartazes em vez de futuro, um presidente, meio governo e oposição de férias, uma Europa que regateia dívidas e fecha fronteiras, enfim, eis a dormência de agosto e "o tédio a invadir-nos a alma", como diria o nosso Eça.
Mulher de esperança, a senhora minha sogra acredita, porém, que "a tudo se chega se a vida dura". E, a confirmá-la, aí estão os astronautas da Estação Espacial Internacional que acabam de provar "saborosas alfaces" cultivadas a 400 quilómetros da Terra, para além de se ver, também agora, uma bandeira americana oficialmente hasteada em Havana. Como assim?
Barak Obama nasceu num agosto como este, em 1961. Fidel Castro já mandava em Cuba e, por esses dias, começava em Berlim a construção do muro.
Quatro anos depois, o neto de um cozinheiro africano ainda não chegara à escola e já os EUA se atolavam, no Vietname, no mais longo e dos mais trágicos conflitos armados da sua história.
O jovem Obama já tinha idade legal para entrar num bar e pedir cerveja, quando um grupo de radicais islâmicos assanhados por um velho líder religioso, de barbas e turbante, tomou de assalto a embaixada americana em Teerão, mantendo 52 reféns ao longo de 444 dias. E ainda não terminara esse ano de 1979, quando as imagens da televisão se intrometeram nas festas de Natal da família Obama, para noticiar a entrada de tropas soviéticas no Afeganistão, a pretexto de defenderem o Governo local comunista da guerrilha mujahedin apoiada pelos americanos.
Em 1983, andava ele na universidade, chegava à Casa Branca um velho galã de Hollywood, chamado Ronald Reagan. Vinha diabolizar o "império do mal" soviético e lançar o lendário programa de defesa estratégica conhecido como Guerra nas Estrelas.
Quem diria àquele jovem Obama que a União Soviética cairia seis anos depois, por implosão, e que um dia, ele mesmo, sendo presidente, haveria de assinar a retirada americana do Afeganistão, receber na Casa Branca o secretário-geral do PC vietnamita, entender-se com Raúl Castro, para pôr fim a quase 60 anos de confrontação com o regime cubano, e abrir a porta a uma paz duradoira com a teocracia iraniana? E quem diria que aquele profético e antecipado Prémio Nobel da Paz lhe haveria de fazer justiça?
Obama acaba de soprar as 54 velas do seu aniversário e recolheu à ilha onde costuma descansar. Deste lado do Atlântico, a falta que nos fazem homens, ou mulheres, que prenunciem esperança antes mesmo de partirem de férias!