<p>Pedro Santos Guerreiro, ontem, no "Jornal de Negócios", dava nome à coisa: "só em Portugal", dizia ele, "é que ainda se diz PEC, Programa de Estabilidade e Crescimento. No resto da Europa, rebaptizou-se o dito como Plano de Austeridade". </p>
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Chamando o boi pelos nomes, diminuem as hipóteses de confusão. E, com o PEC, não há confusão possível: ele existe porque se gastou de mais. Agora é preciso trabalhar mais e melhor e gastar menos.
Quem tem memória lembrar-se-á do que aconteceu com Mário Soares, quando ele teve a coragem de meter o socialismo na gaveta e ir ao aeroporto receber os senhores do FMI. O que, então, se disse! Certamente, haveria quem pudesse ter feito melhor. Mas, passados todos estes anos, reconhece-se que pouco mais haveria a fazer na altura para nos salvar da bancarrota. Há hoje menos críticos da atitude de Soares do que havia então e os que persistem, nomeadamente no PCP e à esquerda deste, podem ter toda a razão, só que, mudando, o mundo se tem encarregado de os desmentir.
É por isso que José Sócrates pode ter razão quando diz, como disse há dias na entrevista que concedeu ao "Jornal de Notícias", que os partidos da Oposição têm necessidade de ter bandeiras e de lutar pelo seu crescimento. Afinal de contas, noutros tempos, o PS também já esteve no papel fácil de, sendo oposição, avançar apenas com as críticas, e não ter uma palavra sobre soluções.
Sócrates pode ter razão e o tempo pode vir a reconhecê-la, embora pareça também que o sector financeiro deveria ser chamado a dar um contributo maior para este plano de austeridade, aliviando a pressão que é feita sobre as medidas sociais. O drama do cidadão comum é mesmo este: habituamo-nos a que não nos falem verdade, pelo menos a verdade toda. Deixámos que os partidos fizessem o jogo político sem que a regra da verdade fosse a regra das regras. O que temos, agora, é a maior das confusões. O cidadão comum, incapaz de discernir quem se aproxima mais da verdade, balança entre as sentenças que vai ouvindo. É por isso que chamar Plano de Austeridade ao PEC tem uma vantagem: é imediatamente perceptível que o cinto vai apertar ainda mais.
Perante a crise internacional que dominou o Mundo, os estados europeus gastaram o que tinham e o que não tinham a apoiar uma economia que já não estava sã. A crise abrandou, mas não acabou. Mas os estados não podem continuar a gastar o mesmo, em intervenções e em investimentos que visavam apenas evitar o descalabro simultâneo de pilares da economia. Acabou. Precisamos de trabalhar mais. Precisamos de trabalhar melhor. O Estado vai ter de gastar menos, autorizar-nos menos deduções em sede de IRS, mesmo em sectores tão importantes e até agora tão sustentados, como a saúde ou a educação.
Já se percebeu que vai doer. É por isso que é melhor que lhe chamemos austeridade em vez de Pacto de Estabilidade.