Corpo do artigo
Nos últimos tempos vimos assistindo nos média e nas redes sociais a uma tentativa, mal disfarçada, de provocar falsas crises políticas para, usando a liberdade de que todos gozamos, fragilizar as instituições democráticas e os órgãos de soberania que nos regulam e nos protegem das voragens ditatoriais e autoritárias. A propósito ou a despropósito, aproveitam-se factos falsos, acontecimentos irrelevantes misturados num qualquer assunto verdadeiro para repetidamente alardearem que os órgãos de soberania não estão a exercer a sua devida função. Sem querer saber se os factos que são transmitidos todos os dias são na verdade realidades desinteressantes travestidas de graves crises para a vida democrática, o que interessa aos pretendentes de um poder único e arruaceiro é, pela repetição sistemática da mentira, transformar o desinteressante ou irrelevante em verdade atentatória da autonomia, imparcialidade e legalidade do Estado. O dia-a-dia noticioso desceu de nível. Greves legítimas, manifestações para uma vida mais justa, são pretextos para violentar e envenenar a vida digna dos portugueses. Tudo serve para transformar artificialmente o braseiro num verdadeiro incêndio. As redes sociais e os média prestam um serviço de superior interesse para a robustez da Democracia, mas para isso têm de ser independentes, autónomos e escrutinar a política quer de quem governa, quer da oposição, sem opções ou orientações disfarçadas de opiniões especializadas. É importante para o nosso crescimento como país manter e resguardar uma Comunicação Social sã e exclusivamente ao serviço do povo. Só assim poderemos direccionar-nos para um país mais desenvolvido, mais culto, mais cívico, mas sobretudo crescermos como seres humanos. Nesta ânsia destrutiva da credibilidade dos poderes legítimos e legitimados pelo voto surge com frequência a insinuação sobre a crise de tal forma enorme que atravessamos que deve colocar-se a questão de eleições antecipadas. Após vencermos com êxito uma pandemia, estar em vias de solução a crise internacional que a todos abrangeu, com apoios solidários às famílias mais necessitadas, às crianças, aos idosos, com uma notável humanidade na recolha e apoio aos migrantes, com todos os órgãos de soberania e instituições democráticas em pleno funcionamento, como é possível pretender-se minar o terreno da paz, da concordância e da saudável antinomia de posições politicas legítimas? Consagra a CRP que o PR é o garante do regular funcionamento das instituições democráticas. Alguém poderá afirmar seriamente que não estão a funcionar regularmente? Como todos os países temos as nossas questões e problemas, mas não está em causa, não tem sentido nem oportunidade brincar às eleições para satisfazer as ambições dos extremismos e, assim, abalar as estruturas da nossa democracia e da nossa república soberana baseada na dignidade da pessoa humana.
*Ex-diretora do DCIAP