O Norte cada vez mais periférico
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No último fim de semana, o JN deu destaque ao facto do Norte ser uma das três regiões portuguesas - a par da Madeira e Açores - que figuravam numa lista de 36 da União Europeia, com perda líquida de jovens licenciados para a emigração. A notícia já seria preocupante por si própria, confirmando o mau desempenho da Região Norte na fixação de quadros qualificados, mas o facto de estar ao mesmo nível de duas regiões ultraperiféricas, como são os nossos arquipélagos, suscita uma reflexão séria sobre as causas e os pressupostos deste problema.
Se a reportagem apontava para o intervalo 2010-2019, os números mais recentes do Eurostat vão no mesmo sentido: no segundo trimestre de 2023, a população empregada na Região Norte com ensino superior tinha baixado 9,7%, face ao mesmo período de 2022. No mesmo segmento, a taxa de desemprego (4,4%) também cresceu na variação homóloga, em cerca de 1,4%. A conclusão é evidente: seja por escassez de oferta, fraca remuneração ou ausência de perspetivas de carreira, o emprego que está a ser criado no Norte do país não está a mobilizar e reter as pessoas com melhores qualificações. Por maioria de razão, são os jovens que estão mais propensos a procurar lá fora o que não encontram no seu país e na sua região de origem.
A este clima de evasão de cérebros não ajuda, por exemplo, que projetos de investimento como os da Farfetch ou da Galp, na antiga refinaria de Matosinhos, estejam aparentemente suspensos ou comprometidos. A incerteza e a falta de oportunidades são os piores argumentos para reter quem está a começar a sua vida profissional. Por isso, é preciso agir e, além do IDE e dos nómadas digitais, o Porto e Norte tem de ser um espaço suficientemente competitivo para oferecer melhores condições aos jovens e permitir que realizem, por cá, o seu projeto de vida e de trabalho.
Empresas, associações e academia estão, nesta perspetiva, convocadas a estreitar relações e desenvolver projetos comuns, que apliquem conhecimento e inovação ao tecido económico; e coloquem alunos de mestrado e doutoramento a cooperar com os setores tradicionais. O Norte tem de ousar nas soluções ou, a prazo, não terá resultados muito diferentes dos atuais, continuando mais periférico e a perder os melhores quadros que produz.