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Há um retrato, hoje, nas páginas do JN, que necessariamente nos obriga a todos a pensar. O Norte está em crise. Uma crise bem maior do que a do país. Dói saber que na Europa toda há apenas duas regiões tão pobres como o Norte de Portugal: uma, na longínqua Guiana francesa, a outra na região de Dytiki Ellada, na Grécia. A situação agravou-se assim que a crise internacional se agudizou, já que a resposta do país não foi homogénea. Aliás, o comportamento português perante a crise continua a variar de região para região. Ainda ontem, empresários alertavam para taxas de desemprego desiguais em território nacional, às vezes até em concelhos vizinhos, dando o exemplo da Póvoa, que vive com 10 ou 11 por cento, e Vila do Conde, que suportará 14 por cento.
O que o Norte necessita é seguramente de alguma discriminação positiva, contrariando o apetite devorador e centralista de Lisboa e Vale do Tejo, mas mais ainda necessita de acreditar em si próprio. Os dados referentes a 2007, em que o Norte cresceu mais do que a média do país, são animadores. Mas para voltarmos a lidar com números melhores precisamos, antes de tudo, de garantir que os jovens estudem mais, se preparem melhor. A aposta na Educação é uma das principais batalhas, e para isso será com certeza necessário criar estímulos para que os jovens não abandonem os estudos demasiado cedo. A formação profissional é outras das vertentes que não pode ser descurada.
Uma região que alberga uma escola com a qualidade da Universidade do Porto e ainda outras escolas superiores genericamente reconhecidas como de qualidade só terá razões para estar optimista ou, pelo menos, para não se deixar invadir pelo pessimismo. Mais do que uma figura providencial que guie o Norte, são estas universidades que devem tomar em mãos a condução do problema: definir um programa global, os objectivos a atingir, as verbas e os projectos necessários, quem os dirigirá. Mais do que a boa vontade deste ou daquele Ministério para com a região, mais do que o impulso dado por um ou outro eventual investidor, são as soluções integradas que podem abrir a porta de saída da crise. É esse caderno de encargos que depois de elaborado deve ser presente ao Governo, ficando essas mesmas universidades responsáveis pelo acompanhamento dos projectos e monitorização dos resultados. E as universidades, estando no terreno, além de serem uma garantia para o investimento público, poderão ser um suporte essencial para o sector privado.
P.S. Não será mau também que se siga o avisado conselho de Carlos Lage: os agentes do Norte devem tudo fazer para se certificarem que o próximo referendo sobre a regionalização terá o sim como resultado final…