O novo plano de Putin: o que esconde o investimento da Rússia no Ártico?
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De acordo com o relatório do Business Index North, a Rússia lidera, de forma destacada, os investimentos no Ártico. Entre 50 e 60% de todo o capital investido na região provém de Moscovo. Os números são expressivos e refletem uma estratégia concertada de desenvolvimento económico, com uma dimensão que ultrapassa em muito a mera exploração de recursos naturais.
A fatia mais significativa destes investimentos recai sobre a região de Chukotka, situada junto ao Estreito de Bering, a poucos quilómetros do Alasca. Apesar de remota e com uma população muito reduzida, Chukotka registou um aumento de 388% nos investimentos; enquanto o restante Ártico russo viu uma redução de 18% no mesmo período. Os recursos naturais da referida região, nomeadamente ouro e cobre, estão no centro da estratégia. Mas não só. A região recebeu também investimentos significativos na produção energética e no desenvolvimento de novas infraestruturas marítimas.
A central nuclear flutuante Akademik Lomonosov, ancorada na cidade costeira de Pevek, é um dos símbolos deste esforço. Esta estrutura, com capacidade para abastecer até cem mil pessoas (embora Pevek tenha pouco mais de quatro mil habitantes), substitui uma antiga central a carvão e reduz a dependência da envelhecida central nuclear de Bilibino. Mais do que uma solução energética, é um instrumento de fixação territorial e demonstração de força tecnológica. A central representa, também, uma forma de garantir autonomia e capacidade de resposta rápida numa região de difícil acesso e cada vez mais estratégica.
Mas o que está em causa é mais do que economia. É soberania. É segurança. É a antecipação de um novo mapa geopolítico, onde o Ártico deixará de ser periferia para passar ao centro das grandes disputas globais.
Também o investimento em infraestruturas (portos, terminais e acesso facilitado à Rota do Mar do Norte) confirma esse objetivo. Esta rota, que liga a Europa à Ásia contornando a costa russa, surge como alternativa ao canal do Suez. Moscovo pretende controlar esta nova autoestrada marítima, oferecendo segurança, apoio logístico e capacidade de operação durante o máximo de meses possível ao ano.
É aqui que a economia se mistura com a política: reforçar o controlo territorial, explorar recursos, criar capacidade logística e energética em regiões inóspitas é garantir vantagem competitiva e militar.
A Rússia, ao investir em força no gelo, está a garantir que, quando este desaparecer, já lá estará; com infraestruturas, meios, tecnologia e soberania efetiva sobre territórios que vão ganhar nova centralidade no Mundo que se aproxima.