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Será que em Portugal passamos a ter um sistema presidencialista e não demos por isso?
Não sei se terá sido a visita do Papa e a JMJ no princípio do mês, a que se juntou a ida de Marcelo à Polónia, Ucrânia e S. Tomé, mas a verdade é que não senti este ano que a política tivesse metido férias. Nem quando o presidente foi a banhos no Algarve.
Reza a nossa Constituição que vivemos num sistema semipresidencialista, mas a avaliar pelos últimos acontecimentos, para alguém que tenha chegado recentemente ao nosso país, dificilmente acredita. Não consigo perceber como é que as presidenciais de 2026 já parecem dominar a agenda política e mediática que nem no mês de agosto teve direito a folga. Para quem esteve atento às notícias, não deixou de ser surpreendente como é que este assunto teve tantas novidades e tanto tratamento nas últimas semanas. Do lado socialista parece que bastou um jantar organizado pelo ex-ministro das Finanças Mário Centeno para logo se gerar a convicção de que é ele a nova aposta dos socialistas para PR. Tudo isto porque, entretanto, o atual presidente da AR, uma espécie de candidato “pescada”, que antes de o ser já o era, afinal agora já não vai poder ser porque as fantásticas sondagens que alguém faz não lhe dão grandes resultados. Claro que o que se diz é que Mário Centeno (que em boa verdade também não sabemos se é candidato a alguma coisa) ainda terá de esperar para ver se Guterres quer sair da ONU para Belém, ou se António Costa ainda dará o dito por não dito, apresentando-se para um cargo que sempre disse estar fora dos seus horizontes.
Mas do lado direito do nosso espetro político a conversa também vai ao rubro. Tudo porque Marques Mendes, comentando-se a si próprio no seu espaço da SIC, veio dar esperanças àqueles que o gostavam de ver na corrida. Para não esquecer Paulo Portas, que apesar de ter nas sondagens valores próximos dos que pelos vistos afastam Santos Silva, também ainda poderá juntar-se ao rol de candidatos e se calhar é por isso, dizem, que nas próximas semanas vai ser figura de proa na Universidade de Verão do PSD e na rentrée do CDS. A estes dois ainda é possível juntar Carlos Moedas, a quem o protagonismo na JMJ parece ter dado asas, e Passos Coelho, cuja “candidatura” já vem a ser “analisada” desde a sua aparição na Festa do Pontal... do verão de 2022. A esta distância das presidenciais e ignorando todas as outras eleições que se realizarão antes ou no mesmo ano, a sensação que fica é que o desempenho sui generis de Marcelo parece ter induzido uma mudança de regime à revelia da Constituição.