O campeonato que principiou ontem à noite é também o da chegada da austeridade ao futebol profissional na Europa. Como já se vai sentindo pelos fracos movimentos no mercado de transferências de jogadores, impostos pela falta de investimento em geral e do mercado da publicidade e marketing em especial.
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Situação apenas mal disfarçada quando algum oligarca ou xeique se interessa pelo excitante brinquedo que pode ser deter uma equipa de futebol ou outra modalidade desportiva qualquer de alta visibilidade. Sobretudo se esse brinquedo servir de veículo para melhor e mais facilmente circular capitais que, de outro modo, estariam condenados a ser tributados nas praças onde nascem e se acumulam sem rendibilidade à vista, seja por subdesenvolvimento desses países, por sistemas fiscais menos amigáveis ou por perigosa exposição social, política e até eleitoral.
Nos esforços para travar a circulação ilícita de capitais, as instituições da União Europeia têm tido um sucesso mitigado pela simples razão de que não há uma unidade fiscal nem policial porque também não há unidade política. Ou seja, tudo o que afinal há no futebol, apesar de alguns políticos gostarem de associar essa unidade do futebol, representada pela UEFA e as federações nacionais, a um atropelo à democracia: um Estado dentro do Estado, como tantas vezes ouvimos entre nós. E tantas vezes também desmentido pelas contas de clubes e sociedades desportivas no que toca ao essencial: impostos pagos.
Os esforços que as várias comissões da UEFA estão a desenvolver em torno do chamado "fair play" financeiro ainda arriscam servir de modelo a outras atividades comerciais, industriais e financeiras na União Europeia.
É do tal Estado dentro do Estado que parecem prontas a aplicar leis e sanções capazes de separar o trigo do joio. Um dos exemplos deste esforço para salvar o bom mercado é que a UEFA vai deixar de considerar como boas para as contas dos clubes as mais-valias obtidas em vendas de passes de futebolistas a fundos de investimento. Ou seja: só poderá ser contabilizada a mais-valia de passe vendido desde que a operação seja definitiva e assumida por outro clube.
Mas haverá mais: a partir da época 2013/14, a UEFA não permitirá o acesso às eurotaças de clubes com prejuízos acumulados superiores a 45 milhões de euros, limite que baixará para os 30 milhões na época seguinte.
Que o futebol já tem a sua troika não restam dúvidas. Que o faça de moto próprio e de algum modo antecipando até decisões expectáveis da política europeia, é uma bofetada de luva branca nos tais políticos [sobreviventes da nebulosa marxista que etiquetou o desporto profissional como ópio do povo] que o detestam. Por ser amado pelo povo.