Os portugueses andam de nervos à flor da pele. Cuidado!, exige--se muita ponderação, critério nos comportamentos e decisões boas e bem explicadas dos vários protagonistas do exercício do Poder Político, sob pena de a arraia-miúda acabar por alinhar no sempre campo fértil dos oportunismos de certos demagogos e desmobilizar dos sacrifícios para os quais é demasiadas vezes convocada.
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A conjuntura do país, desfavorável, aconselha rigor e excelência.
O lema "ou há moral ou comem todos" nunca terá tido tanto cabimento. E a sociedade faz bem em estar atenta, questionando o critério das nomeações realizadas pelo Governo, os salários e os prémios pagos aos gestores, a gestão da frota automóvel do Estado, enfim, todas e quaisquer mordomias, nelas incluídos critérios incompreensíveis de Justiça - dividindo-a entre ricos e pobres, poderosos e vulgares cidadãos.
Sejamos honestos: os poderes Político e Económico nunca foram tão escrutinados e de pouco lhes valem manobras de diversão. Mas a exigência deve ter, apesar de tudo, alguns "amortecedores". Há uma linha ténue entre a legitimidade da crítica virulenta e uma cegueira justicialista cuja consequência última, usando o quanto pior melhor, pode colocar em xeque o Estado de Direito Democrático.
Dispondo de casos salariais de todo pornográficos (são inclassificáveis as afirmações de Eduardo Catroga após a nomeação por valor chorudo para a presidência do Conselho Geral da EDP), as recentes críticas feitas ao Governo a propósito de nomeações, da sua autoria ou por sua influência - suspeita dificilmente desmontável - são um paradigma de como o povo está sensível e disposto a provocar um rombo na confiabilidade da actual coligação governamental. Já a gigantesca onda de rejeição às lamúrias do presidente da República a propósito do valor das suas reformas (cerca de dez mil euros mensais, brutos) é um outro caso, descontando tradicionais invejas, de como o pedido de equidade nos sacrifícios está na primeira linha do desejo da maioria dos cidadãos para a construção de um país sério e solidário.
Os critérios de exigência são, pois, bem-vindos, mas é leviano considerá-los todos por igual.
As reacções aos ditos infelizes de Cavaco Silva são um bom exemplo. Faz sentido uma mostra de indignação geral e vaiá-lo, como sucedeu no sábado, na abertura da "Guimarães, Capital Europeia da Cultura"? Faz. E justifica-se uma petição, como a que por aí circula, a pedir a sua demissão? Não. Não justifica.
Para lá de (re)legitimado pelo voto do povo há apenas um ano, o inquilino do Palácio de Belém foi desastrado na choraminguice sobre a sua reforma, apesar de tudo privilegiada, mas não violou a Constituição nem roubou ninguém ao ponto de dever ser apeado. Para ajudar o país a ir a pique só faltava agora mais uma crise institucional...