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A Via de Cintura Interna (VCI) é um dos mais graves problemas que afetam o Porto. O afluxo quotidiano de dezenas de milhares de veículos, muitos deles usando-a apenas como via de passagem, contribui de forma assinalável para o congestionamento de trânsito que se vive na cidade. A situação é ainda agravada pelo enorme número de acidentes que ocorrem na VCI, mais de 500 em cada ano só no seu troço portuense.
Mas os efeitos nocivos da VCI vão para além do trânsito. A poluição atmosférica e os elevados níveis de ruído causam graves problemas de saúde e aumentam muito o impacto das alterações climáticas na cidade.
Não espanta por isso que a VCI tenha estado no centro de muitos dos debates realizados na recente campanha eleitoral autárquica. Não havendo consenso sobre a visão de longo prazo para a VCI, há um aspeto que mereceu apoio generalizado: a necessidade de reduzir a circulação automóvel e, em especial, a travessia da cidade por viaturas pesadas que nela não têm ponto de partida ou local de destino.
Para que isso seja conseguido é essencial mudar o sistema de portagens. Há duas medidas prioritárias: isentar de portagens os pesados que utilizem a CREP/Circular Regional Externa do Porto, estimulando o uso dessa via alternativa e, em simultâneo, abolir as portagens na A4, no troço entre Matosinhos e a Maia, fazendo com que a circulação pendular Matosinhos/Maia deixe de ser feita com recurso à VCI. Um estudo da Infraestruturas de Portugal, validado já em 2021 pelas câmaras municipais da Maia, de Matosinhos e do Porto, mostra que, em conjunto, estas medidas podem reduzir em mais de 10% o tráfego nos nós mais problemáticos da VCI. O custo, cerca de dez milhões de euros por ano, é razoável face à magnitude dos benefícios que serão obtidos.
A adoção destas medidas depende de uma decisão que os vários governos, incluindo os do partido a que pertenço, têm vindo a adiar sucessivamente. Causa preocupação a total omissão do assunto na proposta de Orçamento do Estado para 2026, que foi agora aprovada na generalidade. Vamos, de novo, ficar para trás? Está em causa a mobilidade na cidade, a saúde e a qualidade de vida dos portuenses. Apelo, por isso, aos deputados eleitos pelo círculo eleitoral do Porto, por todos os partidos, para que não permitam que assim aconteça, promovendo a necessária alteração ao Orçamento, em sede de especialidade. O Porto não pode esperar mais.

