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Quando, em agosto, as chamas destruíam as florestas e ameaçavam casas e vidas no Interior do país, André Ventura inflamou-se. Ao ponto de ter ido, em mangas de camisa, combater o fogo num pinheiro ou num eucalipto (ou outra qualquer espécie arbórea, não deu para perceber e não interessava, que o líder do Chega estava solidário com os bombeiros, não com os botânicos). Confirma-se, agora, que foi um fogacho de verão. Ontem, enquanto decorria um debate sobre incêndios na Assembleia da República, André Ventura "fugiu de mansinho" (a expressão é de Hugo Soares, líder parlamentar do PSD) à discussão e foi corajosamente confrontar os imigrantes que se manifestavam contra as alterações às leis dos estrangeiros e da nacionalidade. Tinha recados muito importantes para passar: que Portugal não é um "um bar aberto em que qualquer pessoa entra" e que estava ali para "defender os portugueses". A provocação cumpriu o seu objetivo: o que até então fora uma manifestação pacífica transformou-se num pequeno tumulto. Não é surpreendente e mostra coerência. Basta recuar uns dias e recordar a participação do líder do Chega num comício em Espanha, organizado pelo partido de extrema-direita Vox. André Ventura levou os presentes ao delírio quando se referiu à caça ao imigrante na localidade murciana de Torre-Pacheco, na sequência da agressão de um reformado por jovens marroquinos. Em espanhol, declarou o "orgulho tremendo" no que "vocês fizeram". Resumindo, orgulho nos tumultos, violência, perseguição e agressão indiscriminada a cidadãos inocentes por milícias populares, só porque são imigrantes magrebinos, ou espanhóis filhos de magrebinos. No fundo, orgulho com um "pogrom", ou, para citar os dicionários, com "movimentos populares violentos organizados contra uma comunidade". No século XX, as vítimas dos "pogrom" foram os judeus. Se depender dos milicianos que tanto entusiasmam André Ventura, as vítimas do século XXI serão os muçulmanos.