"What you do in Vegas, stay in Vegas". Se o que se faz em Las Vegas é para ficar em Las Vegas, o que se faz em Los Angeles sobretudo na noite dos Oscars, é para sair de lá a grande velocidade e correr o Mundo todo.
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Embora nos dias que correm seja muito perigoso recordar aquele ditado que diz "quanto mais me bates mais gosto de ti", tenho para mim, salvo melhor opinião, que o filme da noite dos Oscars passou muito por essa imagem. No caso da cerimónia de Los Angeles poderíamos dizer que quanto mais bofetadas levo, mais audiências consigo, que é uma estranha forma de dizer quanto mais me bates em direto, mais gostamos das audiências que temos.
Ninguém me tira a ideia que o insólito episódio da bofetada constituiu uma grande operação de marketing. Evidentemente que tendo eu razão estamos a falar de uma operação arriscada. Mas agora digam-me que outras grandes operações de marketing não envolvem sempre elevados riscos? Para dar só um exemplo que já vem de longe, recordo as primeiras campanhas de imagem da Benetton. Mesmo que à data de hoje possam ser olhadas sem nenhuma estranheza, na altura em que foram o ar eram arriscadas e por isso levantaram polémica. Em abono da minha tese diria que o apresentador não esboçou sequer uma reação e até mais tarde ter confirmado que não apresentaria nenhuma queixa e ainda o facto do esbofeteador ter saído de lá com um prémio de melhor ator. Nem sequer estranharia que em próxima edição pudessem vir os dois a partilhar um Oscar para o melhor desempenho por causa deste filme em que entraram.
É igualmente muito estranho que os organizadores da cerimónia também o tivessem lá deixado ficar sentado, serenamente, à espera de receber o seu prémio, se a bofetada não fosse esperada e combinada. Claro que para quem resolveu aproveitar a deixa para defender que o humor não tem limites, e que quem anda na vida artística tem de aguentar e calar qualquer tirada humorística por mais negra que seja, o que interessa é nem colocar a hipótese de que a bofetada tivesse sido encenada.
Como facilmente perceberão eu também assino por baixo qualquer petição que clame aos sete ventos que nenhum humorista pode ser esbofeteado por um qualquer espectador que leve a mal uma piada que ele tenha feito consigo, com os seus, ou com qualquer ideia ou crença que o espectador entenda estar acima de qualquer tipo de crítica humorística.
Mesmo saindo do contexto deste tipo de espetáculos e falando por exemplo de uma outra moda americana muito em voga, os roasts, é absolutamente inimaginável que quem se põe a jeito para que digam mal dele em público tenha a mais pequena veleidade de entrar no campeonato da bofetada com quem foi convidado para essa atividade maldizente.
Posso estar enganado, mas quem nunca se enganou que escreva a primeira crónica.
*Empresário