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Estão aí. Os novos administradores de Portugal. Fechados numa sala, algures, em reuniões contínuas, para determinarem o que deveremos fazer para pagar as dívidas soberanas. O melhor é os deixarmos silenciosos, pois, nesta fase, interessava que nem os ministros demissionários emitissem desnecessários ruídos.
E para não agravar a depressão motivacional em que nos encontramos, embora sem fugir da triste realidade de um país entregue às entidades das finanças mundiais, o melhor será falarmos sobre o outro lado do país. O lado bom.
Por estes dias, andei por Trancoso, Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha. Mergulhar por essas terras faz crescer o amor devido a este Portugal, de momento, tão desdenhado.
Em Trancoso, antiga vila medieval, reconquistada por D. Afonso Henriques, que deixou ali marcas bem visíveis da nacionalidade como aquela cintura de muralhas e um precioso castelo, admirei a valiosa monumentalidade bem expressa nas Portas d'el-Rei ou na torre de menagem do dito castelo. Sensibilizou-me o respeito por esse património riquíssimo de que pode ser ex-líbris a reconstrução do Convento de St.º António. Confundiu-me como, numa terra hoje muito despovoada e de gentes acima da meia-idade, é possível uma autarquia fazer o "milagre" de conservar a memória viva do passado histórico e construir ainda, com plena integração nesse ambiente, um moderno auditório e um pavilhão multiusos. Igual sentimento me surpreendeu ao visitar as Idanhas, terras marcadas pelas heranças de velhas famílias senhoriais, hoje desfeitas, ou também por monumentos milenares como a Catedral de Idanha-a-Velha (a Igreja de Santa Maria, século IX), alinhada com um moderníssimo arquivo epigráfico. A riqueza natural que por ali se desfruta com o Parque Natural do Tejo, reconhecido como património mundial pela UNESCO, é paisagem de um sonhado paraíso terrestre. Também ali constato a difícil proeza de autoridades autárquicas que perseveram em conservar estas riquezas de um país financeiramente falido.
Obviamente, um artigo de opinião não é para fazer reportagem. Neste, apenas, pretendo chamar a atenção de um Portugal que tem património para "dar e vender", não fosse a dívida soberana só pagável em dólares ou euros pelos senhores do FMI, BCE e quejandos. Aliás, teremos de pagar, não vão eles penhorarem esses bens. Se ao menos eles aceitassem a devolução dos Mercedes ou BMW, submarinos e outras coisas tantas que, entretanto, com dinheiro emprestado pelos pobretanas bancos portugueses lhes comprámos.