Aprendi, entre outras coisas, o seguinte no mês de fevereiro que passei no distrito de Braga, no âmbito das comemorações do 125.o aniversário do JN: os empresários de pequenas, médias e grandes empresas estão tão fartos da lamúria quanto conscientes das dificuldades que o país atravessa. Mas, em vez de perderem o tempo em verborreias inconsequentes nada produtivas, andam, com mais afinco do que nunca, a fazer-se à vida, se o leitor me pemite o tom coloquial.
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Bem sei que há gente desta, capaz de afastar os estorvos vários e engulhos muitos que o Estado e o Governo lhes colocam à frente, espalhada por todo o país. Homenageio-os lembrando as histórias e estórias que recolhi no Minho. São elas e eles que nos fazem acreditar que este país ainda vale a pena. E que há uma réstia de esperança para que continue a valer a pena.
A estilista Ana Sousa, por exemplo, construiu um pequeno império a partir da sua aldeia natal: Pereira, no concelho de Barcelos, onde faz questão de manter a fábrica. Anda a "fazer trapos", como ela diz, há 40 anos (tem 53). Tem 67 lojas monomarca (50 em Portugal), presença em lojas multimarca na Europa, América e África, fatura 32 milhões de euros e emprega 600 pessoas.
António Ressureição viu num documentário televisivo sobre a descoberta de uma múmia de uma criança com 300 anos a potencialidade do algodão. Montou a NaturaPura: vende produtos feitos a partir de algodão biológico, sem resíduos tóxicos. Exporta 60%do que produz.
José Sá foi pastor dos 7 aos 19 anos. Aprendeu a colocar taco e, a seguir, atirou-se à construção. Aos 28 anos, fez a 4.ª classe para poder comprar o primeiro carro. Hoje, a Sá Taqueiro é uma das mais robustas empresas de construção civil de Braga: fatura 13 milhões e dá trabalho a 100 pessoas.
Na estamparia Jocolor, o administrador João Carlos Cunha tanto porfiou que acabou por encontrar um sistema de uso da cola que baixou drasticamente os custos de produção. Além disso, divide os lucros da empresa com os trabalhadores.
E, claro, o magnífico António Gonçalves, padre empreiteiro e promotor de espetáculos que, apesar da inveja de muitos, fez em duas décadas nas paróquias de Celorico de Basto que lhe cabem o trabalho que muitos autarcas de vistas curtas não fizeram porque, simplesmente, não sabem nem querem saber.
No dia em que ficámos a saber que cerca de 8 mil trabalhadores da Conforlimpa podem ficar sem trabalho porque o patrão deve 42 milhões de euros ao Estado por fraude fiscal, lembrar estes exemplos de boa economia, empresarial e social, ajuda, pelo menos, a acreditar que, como diz o patrão da Sá Taqueiro, "se nos pusermos finos, as coisas correm bem". Eles puseram-se finos.