Ainda não chegamos em força à época dos fogos, mas a temperatura começou a subir e com ela a nossa preocupação.
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Lemos e ouvimos que a limpeza de mato foi feita com amadorismo e que isso ajuda à propagação dos fogos. Lemos e ouvimos que há muito sítio onde a limpeza simplesmente não foi feita e sabemos que isso só pode significar que o fogo já tem combustível para voltar a espalhar a desgraça por todo o país. Mas quando nos fazemos à estrada e vemos com os nossos olhos, recuperamos alguma da nossa religiosidade, porque sabemos que só por obra e graça do Espírito Santo nos podemos salvar.
Não é do diz-que-disse, nem do que ouvi dizer. Nem das redes sociais e, nem sequer, dos jornais. Eu vi. Quilómetros e quilómetros de estrada tomados pelo mato, numa zona de tanta má memória, pelas dezenas de pessoas que lá morreram, fez há pouco três anos. Estive lá, no fim de semana. Passei por Pedrógão Grande, fiz compras no supermercado, dirigi-me ao Soito (Góis) e vi o mato que tomou conta da estrada. Partilhei a foto numa rede social e recebi muitos comentários, dando-me conta de que que noutras zonas do país está exatamente da mesma maneira.
E se pensa que pior é impossível, fique a saber que o Governo não permitiu o reforço da dotação da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil para pagamento aos bombeiros que integraram o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais em junho. Ontem, anunciou a autorização. Num ano em que a autoridade do Estado parece hipotecada pela covid-19, nem quero pensar no que pode acontecer com as temperaturas a subir e os bombeiros desmotivados. O país já está a arder, só não dá ainda para ver. O melhor que pode acontecer é eu estar completamente enganado e vivermos, em 2020, o melhor ano deste século no combate aos fogos. Para isso, temos todos de estar muito atentos e querer saber do que, obviamente, está para acontecer.
Jornalista