O colossal aumento de impostos desenhado para o Orçamento do Estado de 2013 será aprovado amanhã na Assembleia da República. Se estão convencidos, desenganem-se os portugueses que ainda esperavam o contrariar do documento saído do Excel de Vítor Gaspar em consonância com as regras base ditadas pela troika. Afinal, os parlamentares apoiantes da coligação governamental não esquecem a obediência à malha fina da disciplina partidária.
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Pesada, a panóplia de agravamentos fiscais dispõe de um segmento sem escapatória possível: a dos novos escalões de IRS. Quem é trabalhador por conta de outrem não terá alternativa e já no recibo de janeiro verá como o emagrecimento salarial lhe afetará ainda mais seriamente a vida.
A impossibilidade de contrariar as condições de vida reais dos portugueses impõe, apesar de tudo, tentativas para minorar os problemas. E assim se percebe o atual enquadramento em sede de concertação social da hipótese de quem ainda dispõe do privilégio de auferir subsídio de Natal (ou férias) o poder receber em duodécimos. Sempre é um disfarce... no qual nem sequer é negligenciável a teoria expendida este mês por Angela Merkel em Lisboa e segundo a qual os constrangimentos provocados pela austeridade extrema são ultrapassáveis no âmbito do foro psicológico em 50% dos casos....
Por estes dias o debate sobre o pagamento de duodécimos é marcado por posições de clivagem consoante o setor económico. Isto é: ramos ligados ao turismo, como agências de viagens ou hotelaria, defendem o pagamento em duodécimos do subsídio de Natal; sempre é uma forma de os mais atreitos ao consumo poderem atravessar o cartão em mais um crédito na época de Consoada e Ano Novo, aplicando o subsídio de férias em chapéus de sol e bronzeadores. Na antítese estão, como é lógico, áreas como a do comércio, cujos cálculos passam por pagar as férias em doze prestações, dispondo de mais facilidades de tesouraria na época do Natal.
A consensualização dos vários interesses (fundamentados) não é fácil. Apesar de contabilisticamente mais complexo, acaba por ser credível o cenário de uma decisão salomónica. O fifty-fifty terá um impacto psicológico de desagrado transversal....
Para todos os efeitos, seja qual for a decisão, é avisado um comportamento de cautelas redobradas face ao salário líquido a receber no final de janeiro. Assim como assim não se vislumbra como a curto ou médio prazo serão ultrapassadas as dolorosas atrofias financeiras a que estão sujeitos os portugueses. O anunciado pagamento em duodécimos de um dos subsídios (férias ou Natal) cabe no domínio de uma especialidade médica: a dos paliativos. Só.