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A 13 de maio de 2023, o Papa Francisco disse, claramente, que tinha ficado triste com o que tinha acontecido em Portugal, em matéria do avanço da despenalização da morte medicamente assistida, vulgo, eutanásia. O desabafo emocional do Papa, nomeadamente num parêntesis no discurso que proferia junto de representantes da União Mundial das Organizações Femininas Católicas, foi amplamente registado. A tristeza do Papa - que pode pouco ou nada importar para muita gente - é uma enorme responsabilização para os católicos sobre o assunto.
Mais uma vez, temos com a eutanásia o que tivemos com a despenalização do aborto e há mais tempo ainda com a Lei do Divórcio de 1910. Vários setores da comunidade nacional ecoam (como ecoaram) a preocupação espontânea - fica a eutanásia facilitada? Tinha ficado o aborto facilitado? Agilizou-se em 1910 o divórcio? A resposta honesta é "sim". Um preço mais baixo facilita a aquisição do bem ou serviço associado para a maioria dos bens ou serviços. Um custo mais baixo de um fator de produção estimula o recurso a esse fator mais abundantemente. Um esforço menor atribuído a uma opção aumenta a sua possibilidade de escolha entre várias alternativas.
No entanto, temos depois a dinâmica da desregulação, ou a chamada "lei do Til" (ou do "2" conforme o desenho). Nos primeiros tempos, a realidade desregulada (ou liberalizada) tende a ser mais procurada pela comunidade, existindo até um aumento; mas, depois, a comunidade reduz a procura - quer de eutanásia, quer do aborto, quer do divórcio - estabilizando em patamares que serão maiores ou menores, dependendo de fatores endógenos. E é aqui que quem se interessa pelo assunto - quem se sente responsável - deverá agir: apoiando quem precisa e mostrando que perante a "única saída" existirá uma solução sempre maior.
* Professor da Universidade do Minho