O Papa Francisco quer continuar a corrigir a estrutura piramidal da Igreja Católica, um processo iniciado pelo Concílio Vaticano II.
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Decidiu que no próximo Sínodo dos Bispos, em outubro de 2022, se reflita a sinodalidade na Igreja. O tema do próximo Sínodo dos Bispos foi divulgado no sábado: "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão".
Parece um tema desinteressante, mas poderá provocar uma verdadeira revolução coperniciana na forma da Igreja se organizar e na sua estrutura hierárquica. Recorde-se que a palavra Sínodo tem origem na língua grega e significa textualmente "caminhar juntos". A Igreja não será a mesma se triunfar a sinodalidade no seu modo habitual de funcionamento, tendo em conta aquilo que o Papa já disse e escreveu em torno desse conceito.
O funcionamento sinodal da Igreja, desde o nível local ao global, é um tema caro ao Papa. Refletiu-o aprofundadamente na comemoração dos 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2015. Nessa altura chegou a afirmar que "o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio".
Foi então que o Papa propôs a imagem da estrutura da Igreja como uma "pirâmide invertida". Recordou as palavras de S. João Crisóstomo, que dizia, no final século IV, que "Igreja e Sínodo são sinónimos". E concluiu que, se "a Igreja nada mais é do que este "caminhar juntos" do Rebanho de Deus pelas sendas da história ao encontro de Cristo Senhor, entenderemos também que, dentro dela, ninguém pode ser "elevado" acima dos outros. Pelo contrário, na Igreja, é necessário que alguém "se abaixe" pondo-se ao serviço dos irmãos ao longo do caminho".
Para o Papa, aqueles que estão investidos de autoridade na Igreja têm de se colocar ao serviço dos outros. Porque "Jesus constituiu a Igreja, colocando no seu vértice o Colégio Apostólico, no qual o apóstolo Pedro é a "rocha" (cf. Mt 16, 18), aquele que deve "confirmar" os irmãos na fé (cf. Lc 22, 32). Mas nesta Igreja, como numa pirâmide invertida, o vértice encontra-se abaixo da base. Por isso, aqueles que exercem a autoridade chamam-se "ministros", porque, segundo o significado original da palavra, são os menores no meio de todos".
O Papa dá assim continuidade ao caminho iniciado no Concílio Vaticano II, em que se procurou corrigir a perspetiva piramidal da Igreja, que tinha como base os leigos, submetidos aos padres, estes aos bispos e todos ao Papa. O Concílio propôs a perspetiva de povo de Deus, em que todos são fiéis, uns fiéis leigos e outros clérigos. Mas estes só se distinguem pelo serviço que são chamados a desempenhar em função dos outros. Retirando as consequências da reflexão conciliar, o Papa propõe agora uma inversão da pirâmide.
Esta é uma perspetiva que não agradará a muitos setores da Igreja, sobretudo aos clericalistas e carreiristas. Por isso, apesar de o tema do Sínodo não parecer, à primeira vista, muito estimulante, poderá gerar acesa controvérsia entre perspetivas opostas da orgânica da Igreja.
*PADRE