<p>Em 2004, à beira do voto nas presidenciais americanas, o papão voltou. O espectral Bin Laden, ou alguém por ele, fez então divulgar uma mensagem de vídeo, onde falou durante 14 minutos e 39 segundos. </p>
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Na mesma arenga, assumiu, pela segunda vez, a autoria do 11 de Setembro, e, pela primeira vez, explicou a origem da ideia. Teria pensado nisso quando viu a destruição de dois prédios altos, na guerra civil do Líbano, e na subsequente invasão israelita, em 1982.
Acrescentou que, desde esse ano, sonhava com uma destruição idêntica nos EUA.
Na mesma missiva "aos cidadãos americanos", referia-se a Bush e Kerry, os candidatos de 2004, e dizia que nenhum deles traria segurança, nem impediria "um novo Manhattan".
Dizia que só "o povo" poderia impedir a repetição da tragédia, e deixava uma menção enigmática, sugerindo que, nas Torres Gémeas, estariam 50 mil pessoas, "abandonadas à sua sorte por um homem que preferiu ver as cabras desenhadas por uma criança" (alusão à surpresa de Bush, numa escola primária, quando foi informado do apocalipse).
A máquina de Kerry, que pensava ganhar, ficou siderada. No campo da (in)segurança, perdia largamente para os republicanos.
O reaparecimento de Bin Laden jogava descaradamente a favor de Bush, pois traduzia a noção de que a "guerra contra o terrorismo" não tinha acabado, e que a seguir a medidas duras, eram precisas mais duras medidas.
Não sabemos quem, dos muitos inimigos acumulados pelos EUA, nos últimos séculos, estará interessado em ver McCain ganhar. Mas pode imaginar-se que Obama, colocando Washington a recomeçar do zero, obrigue todos os extremistas do Mundo a reciclar a propaganda.
Uma "surpresa de Outubro", na área da segurança internacional, pode assim derivar desses cálculos, e não de qualquer manipulação por agentes secretos de estados respeitáveis.
Será, no entanto, previsível que, a suceder "qualquer coisa", os adeptos das teorias da conspiração apontem, à falta de outros, para o suspeito do costume: Israel.
Mas não é impossível que as imensas hipóteses de Obama sobrevivam a qualquer atentado ou "casus belli". A sua campanha já ganhou o centro das instituições, e não responderá pelo silêncio, como a patética estrutura de Kerry, nem entrará em derrapagem, como o Governo de Aznar, a seguir às bombas de Madrid.
Crises, ainda, em Espanha, a lembrar ventos que já vimos por aqui, ou já veremos. Tudo começou com a libertação de um reconhecido pedófilo, que acabou por assassinar uma criança, com requintes cruéis.
Nas ruas, o povo em fúria culpou o estado. Acossado, o ministro da Justiça culpou os juízes. Ultrajados, os juízes culparam o "sistema".
E os magistrados entraram em greve. A mensagem era dupla: que se revisse o "modelo", isto é, as más leis penais e processuais penais, feitas pelos políticos (Governo e Parlamento), e que cessassem os actos de interferência e intimidação do gabinete, face ao Poder Judicial.
O que os juízes dizem é que, de duas uma: ou são efectivamente representantes da soberania do Estado, precisando de decidir de forma independente e digna, com meios e segurança, ou se tornam no apêndice judicativo do Executivo, limitando-se a assinar a ordem do dia.
E afirmam mais: quando se elaboraram os códigos, ninguém ouve os juízes, sendo ignorados os seus conselhos. Mas, no fim, quando se aplicam os mesmos códigos, são os juízes os bodes expiatórios.
Claro que há outras versões sobre as culpas.