Numa conversa com Sampaio da Nóvoa, falámos de um aparente paradoxo. Como é possível que a geração com mais estudos, entre os 25 e os 30 anos, ofereça a sua confiança ao Chega? A certa altura, disse-me o ex-reitor: "Os populistas, como os gigantes tecnológicos, oferecem um futuro às pessoas, falam de um mundo que não existe ou de uma viagem a Marte ou de destruir o que pertence ao passado. É um futuro horrível, mas é futuro. Nós continuamos a ouvir Sérgio Godinho, mas não chega". O PS é o paradigma em Portugal desta crise da Esquerda. Falta-lhes sonho e um desígnio. Faltam líderes que saibam inventar novas palavras, novas ideias, novas aspirações. O que dizem e o modo como o fazem são enfadonhos, limitados ao presente, ao politiquês e à sobrevivência. O Mundo alterou-se nos seus paradigmas, talvez para sempre. É terrível que os mais disruptivos, um pouco por todo o lado, sejam de Direita. Podem agitar-nos com revoluções que nos empobrecem, que nos tornam mais egoístas e amorais, mas quando nos falam de conquistar Marte ou de rebentar com a democracia, é um desafio ao nascimento de um novo tempo. A Esquerda precisa - precisamos - de ideias que nos deem corda ao pensamento e um brilhozinho nos olhos. Precisamos de um novo Zeca Afonso que não seja o Zeca Afonso, de novos cravos que não sejam os cravos, de novas batalhas que não sejam as que já passaram. O papel principal da Esquerda não é combater a Direita, mas oferecer um caminho que seja futuro. Uma nova utopia com novos protagonistas.
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