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Após ter apresentado um PEC pouco ambicioso e depois de um valente puxão de orelhas, discreto e recatado, dado pelos parceiros europeus, o Governo estuda uma espécie de segunda versão do referido programa com medidas adicionais. Algumas já são do conhecimento público, parecendo que o caminho passará por um aumento de impostos. Para o Governo, é a solução do "é fácil, é barato, e dá milhões". É fácil porque passa por aprovar uma simples alteração legislativa; é barato porque quem paga são os contribuintes, permitindo a manutenção da preguiça quanto à redução da despesa; dá milhões porque é a solução mais rápida para apagar a fogueira orçamental.
O problema é que, para além deste Governo passageiro existe um país, Portugal, em que se consome em demasia, se poupa muito pouco, em que a dívida do Estado é maioritariamente detida por estrangeiros (em cada 100 euros que se pede 78 são emprestados por investidores não nacionais), em que as empresas e os particulares estão com níveis brutais de endividamento e em que o investimento apresenta valores sofríveis. A que é que isto se deve? A uma economia com níveis de produtividade medíocres e a um crescimento de Pirro. Este problema do passado tem de ser resolvido para o futuro.
No meio da situação de alarme há quem, entre assinaturas para o TGV, assinale o ataque especulativo de que Portugal está a ser alvo. Eu, que gostaria que em algumas fases do caminho ferroviário entre Porto e Lisboa o comboio ultrapassasse os 270 Km/hora, não defendo que neste momento se aposte em soluções relativas a bens não transaccionáveis (ninguém vende caminhos-de-ferro) e que trazem mais rendimento a empresas estrangeiras. Também não advogo que quem tem de tomar decisões apenas se preocupe em atacar aqueles que olham com atenção para os relatórios - os "terríveis especuladores" - e se preocupam com o dinheiro que têm em Portugal. Defendo que se mude de vida, se aposte na nossa economia, e no corte, a sério, da despesa pública, sob pena de me lembrar de um passeio na minha cidade em que via um ilusionista a tirar coelhos da cartola e, no fim, a estender a mão pedindo esmola.