O único país do Mundo onde a pandemia parece ter contribuído para a melhoria da aprendizagem dos alunos continua a superar-se, mas fixemos alguns dos dados que tornam Portugal um caso sui generis na condenação de uma geração, destruindo aquele que é o principal elevador social - a escola.
Quando, em 2020, a pandemia obrigou ao encerramento quase total do país, as escolas objetivamente não estavam preparadas para o que se avizinhava. E o Ministério da Educação foi relapso em dotá-las de recursos e estratégias para gerirem a situação de anormalidade que se vivia com o menor dano possível para a aprendizagem dos alunos. Já em julho de 2020, vários países europeus mostravam dados dos impactos da pandemia na aprendizagem e Portugal ainda estava na fase de solicitar a realização de um estudo que demoraria quase um ano a chegar.
Foi, de facto, quase tudo mal feito neste domínio. As escolas portuguesas foram das que estiveram mais tempo fechadas, não se mediu o impacto do seu encerramento na aprendizagem dos alunos e o plano de recuperação de aprendizagens apareceu sem objetivos claros a atingir. O que se exigia era que a execução do plano permitisse compensar a panóplia de asneiras e omissões que comprometeram o percurso de milhares de alunos. Em especial, recorde-se, dos alunos de contextos mais desfavorecidos. Mas nem isso o Ministério da Educação conseguiu garantir.
Absorvido por um prolongado e inconsequente processo negocial com a classe docente, os dados apontam para mais de 20 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina nesta altura do ano letivo. E as greves não são a razão. É mesmo a incompetência e a incapacidade de o Ministério fazer aquilo que lhe competia: gerir bem os recursos que existem, planeando.
É sem surpresa, mas com profunda preocupação, que ouvimos esta semana o testemunho dos diretores de escolas que vieram alertar para consequências desastrosas da pandemia na aprendizagem.
Foi descrito um cenário assustador: alunos desmotivados e desinteressados e um total desconhecimento da eficácia efetiva das medidas incluídas no Plano de Recuperação de Aprendizagens. Aprendizagens estruturantes comprometidas que comprometem o resto do percurso educativo, o que é especialmente grave para as crianças cujos pais "não têm meios para pagarem explicações", afirmaram os diretores.
Em bom português, as políticas educativas estão a segmentar os alunos entre os que podem e os que não podem arranjar solução para o falhanço da política do Governo. Apesar de ser extensa a lista, este arrisca-se a ser o pecado capital deste executivo. E uma geração deixada à sua sorte, o maior legado de António Costa.
*Jurista
