Corpo do artigo
Não é a primeira vez que o faço e, na verdade, temo que os leitores se impacientem ao ver mais um artigo que, sendo sobre o pior da natureza humana, parece versar sobre jornalismo. Longe de mim ser corporativo. Quando alguém diz que esta é a melhor profissão do mundo, isso é treta. Mas, pelo que representa, é uma profissão credora de respeito.
Falo da profissão, não necessariamente de todos os indivíduos que a praticam, entre os quais me conto. São jornalistas, devo dizê-lo, algumas das piores pessoas que conheço. O que é óbvio, por ser o meio onde profissionalmente me movo há 35 anos. Se por acaso fosse médico, identificaria muitos agentes infeciosos de bata e estetoscópio. Se fosse pedreiro, apontaria colegas com os crânios cheios do material rochoso que trabalham. Em todos os ofícios há gente boa e má.
Quando uma ministra, que terá dificuldades em lidar com o stress das conferências de Imprensa e afins, recebe, possivelmente, indicação de que será melhor ler umas coisas, e, depois de o fazer, levanta-se e vira costas, está a virar costas ao país, porque os órgãos de informação são os olhos do país. É o mesmo que estar no Pulo do Lobo desligado da realidade, quando tudo acontece, o que é bom para o cidadão comum, mas muito pouco aconselhável a um primeiro-ministro debaixo de fogo do presidente da República. Aconteceu em 1994.
Tudo isso é sobranceria e desrespeito pelo funcionamento da democracia, que não existe sem liberdade de Imprensa. O problema é haver muita gente pronta a descartar a democracia, mesmo sem saber muito bem a troco de quê.
São os jornalistas infalíveis? Nem pouco mais ou menos, e deixo dois exemplos. Jornalistas vampirescos, face à morte de alguém, escreveram coisas que toda a família da pessoa, que devia estar a fazer o seu luto, teve de vir desmentir publicamente. O outro: o F. C. Porto, esta época, já mostrou estar a jogar muito futebol, e os sinos adversários tocaram a rebate, incluindo entre jornalistas de fé encapotada (a minha, ao menos, é clara). Que fazem? Há que criar instabilidade, o que se fez inventando, a partir do nada, um folhetim em torno do jogador Rodrigo Mora. Uma não polémica nascida de um não acontecimento.
Isso é abundante entre os praticantes do mau jornalismo, que, como os maus pedreiros, nada constroem de sólido. Porém, as pessoas que confundem más práticas com a importância de uma atividade e do que ela representa (os olhos e os ouvidos de toda a gente), virando costas, não são apenas indelicadas. São perigosas, como feras acossadas.