Durante o seu recente discurso na Universidade de Princeton, Ursula von der Leyen falou longamente sobre o choque entre democracia e autocracia, no contexto da invasão russa da Ucrânia.
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A presidente da Comissão Europeia parece ter plena consciência de que a História não é imutável, isto é, move-se para a frente ou para trás, conforme a perspetiva de cada um. A Itália é apenas mais um caso em que o extremismo suave ganha terreno ao abraçar causas concretas que afligem camadas relevantes da população. Se não fossem relevantes, os seus protagonistas nunca seriam capazes de conquistar votações com expressão parlamentar e nem sonhariam em formar Governo.
Os casos vão-se avolumando dentro da União Europeia (UE). A ascensão ao poder em Itália de Giorgia Meloni, acompanhada por Matteo Salvini e Silvio Berlusconi, está longe de ser o primeiro sinal de que a democracia já não é o que era. A disrupção política transalpina segue-se às eleições na Suécia, nas quais o centro-esquerda foi destronado por uma plataforma informal de partidos de Direita, incluindo os Democratas Suecos, de extrema-direita.
A convivência de democracias moderadas com extremismos de Direita tem sido relativamente pacífica, apesar dos episódios embaraçosos protagonizados, por exemplo, por Viktor Orbán, tanto no plano político interno da Hungria como no tabuleiro das relações internacionais, em que as dissidências de opinião relativas à Rússia colocam Bruxelas numa posição fragilizada. Embora a Polónia tenha passado mais despercebida, estamos perante um caso semelhante dentro da UE. O partido da direita nacionalista Direito e Justiça (PiS), no poder em Varsóvia, conseguiu aprovar no Parlamento uma lei de imprensa muito restritiva. Os casos de nacionalização dos média têm sido pouco comentados fora da Polónia. A liberdade plena não deve ser tomada como garantida dentro da UE. Será, agora, a Itália um perigo alarmante só por estar geográfica e historicamente mais perto dos ideais europeus ocidentais?
*Editor-executivo-adjunto