HÁ PETRÓLEO NO BEATO. Quando há prospecções na costa portuguesa em busca de ouro negro faz também sentido recordar a peça protagonizada por Raul Solnado. Em nome do serviço público de TV...
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Não sei se os doutos elementos da Comissão nomeada pelo Governo para o enésimo estudo sobre o conceito de serviço público de informação costumam ver a RTP Memória. Se a ela dedicam algum do seu tempo ser-lhes-á mais fácil chegarem a um azimute de bom senso. Em matéria televisiva, pelo menos...
Pela RTP Memória passam, de facto, bons nacos de serviço público, embora, naturalmente, repositório de fragmentos das 24 horas de televisão financiada pelos impostos dos portugueses.
A RTP Memória não se limita, de facto, a deixar a sua marca pelo saudosismo bolorento. Pelo canal passam múltiplos programas a justificarem ficar no acervo da qualidade. Peças de teatro, área a que a RTP deixou de dedicar tempo de antena, especialmente no primeiro canal, são referências exemplares de refrescamento de uma memória espaçada e/ou perdida no tempo.
Há dias a RTP Memória enquadrou na sua programação uma comédia de grande nível e cujo sucesso de bilheteira agitou os meados dos anos 80 do século passado. "Há Petróleo no Beato", assim se chama a peça, junta um manancial de humor crítico à arte de bem representar, ou não tivesse Raul Solnado como protagonista. A trama é excelente e contém um factor especial 25 anos passados sobre a sua subida aos palcos: mantém actualidade, ou não fosse o petróleo uma das fontes garantidas de divergência dos povos, misto de desenvolvimento e desgraça.
Ponto assente, então: "Há Petróleo no Beato" enquadra-se no nosso tempo. E se a agitação do cenário de Raul Solnado e um grupo de outros excelentes actores teve como fio condutor um interesseiro jogo de bastidores, a verdade é que na vida real mantém-se a a expectativa-sonho de um velho ideal português: encontrar petróleo, em terra ou na zona marítima exclusiva...
Curioso: desagradam aos pescadores no Norte e Centro do país as limitações que lhes estão a ser impostas pela tentativa (mais uma) de encontrar ouro negro no Atlântico, na zona entre a Batalha e Aveiro. Alinham, por isso, pela bitola dos portugueses que não acreditam que haja alternativas para o país sair do fosso em que está metido só pelo facto de o petróleo poder vir a jorrar. Não querem, pois, trocar o certo pelo incerto... ao contrário do que fez o espertalhaço do compadre de Solnado no "Há Petróleo no Beato".
Viram os pescadores rezingões a peça? Não creio, nem é importante fazer um tal exercício especulativo. Primordial nesta altura era antes ter a certeza de que a viram em televisão os elementos da Comissão encarregue de definir o serviço público na Comunicação Social...